terça-feira, outubro 21, 2008

Toró de Parpite nr. 44. Té mais vê, Mineiro.




Toró nr 44. Matoury-Guiana Francesa, 21 de outubro de 2008.

Abri minha caixa de e-mails e la estava a mensagem que me deixou atordoada:

lamento ter que te dizer que o Guilherme fez sua grande e ultima viagem esta manha…
Tia Rose"

Assim.... sem me despedir!


Guilherme Calabria foi uma daquelas grandes paixoes que a gente têm na vida. Mas como nos dois tinhamos medo de compromisso, casamento e outras coisas ligadas, a paixao se transmutou numa grande amizade.
Esse mineiro me deu muita força em terras suiças, além de ombro e ouvido nas horas infelizes, carona nos dias de neve pra qualquer lugar, jantares no "Commercio" e trabalho nas épocas das vacas muito magras. Minha vida na Suiça deve muito ao Guilherme.
Morreu de câncer fulminante em apenas alguns meses depois de diagnosticada a doença, na minha opiniao, originada por um medo grandioso de se permitir ser amado, sua maior sombra - quem nao as têm?

Ele nao suportava agradecimentos, parabéns pra você e outras demonstraçoes de carinho.
Foi amigo de tudo que é brasileiro na Suiça, desde artistas, passando pelas comunidades espiritas e evangelicas às meninas da rua Langstrasse com a mesma tranquilidade mineira e desapego.

Quando fiquei sabendo da doença um mês atras liguei pra ele, que me recebeu com a voz sempre calma e falando da situaçao como se fosse uma gripe.
Disse que estava confiante no tratamento e que a doença dava sinais de regredir.
E eu acreditei e nao voltei a lhe telefonar! Esperava reencontra-lo na proxima primavera pra rirmos juntos de tudo isso.
Conhecendo o Guilherme como eu conheço, como pude acreditar??
Eu deveria ter suspeitado que essa era so mais uma estrategia do Mineiro pra nao preocupar os amigos, pra nao receber demonstraçoes de carinho, pra se preservar.

Morreu pouco mais de um mês depois. Ai que dor!

Queria tanto so mais uma vez nesta vida dar um abraço bem forte desafiando as leis que nos separam fisicamente e manter essa sensaçao até o dia em que poderemos nos rever.

De acordo com a minha e a crença do Guilherme, certamente a lei da sincronicidade nos colocara frente a frente novamente como ja o fez na Suiça um dia, mas é triste saber, é tao triste saber que nao vou mais escuta-lo falando italiano com os garçons do restaurante "Commercio"; nem me revelar segredos partilhados apenas entre grandes amigos ou ouvi-lo abaixando a voz como quem vai iniciar um assunto muito sério: "ô mandioqueira,..."

Meu amigo, meu irmao, queria ter estado ao seu lado, segurando a sua mao no momento da sua transiçao, queria ter cuidado de você, limpado a sua casa e lavado a sua roupa, ter lido livros lindos e escutado musicas ao seu lado pra te acalmar nos momentos de dor.

Que bom que tive a chance de te dizer um mês atras o quanto de luz você doou aos amigos e filhos. Que essa luz retorne toda pra você como um farol no mar, uma brisa mansa numa manha de maio pantaneira, um amanhecer azulado na linha do mar e... até um dia.

Momentos de alegria ao lado do Guilherme.

No escritorio
Ida para a India. Festa de despedida. Guilherme, Sandro e Jeferson da direita para a esquerda.


No Centro Espirita Maria de Magdala, na Suiça. Reencontro.