sábado, agosto 18, 2012

De perto ninguém é normal.

Lans en Vercors - França, 18/08/2012. Verao. 15:40. Dia de sol, céu azul. 35°C.





O Patiework de hoje é sobre o filmaço "CLOSER - Perto Demais", catarse na certa pra quem tem medo de amar e se entregar, meu assunto preferido nos estudos do Pathwork. "Uma visão do diretor Mike Nichols sobre quatro estranhos com uma coisa em comum: eles mesmos."

Pra ver o filme na integra e dublado, clique aqui.

O filme narra a história de dois casais que vivem atolados em falsas imagens de amor e estabelecem a forma mais comum de relacionamento: através do ego, com muitas expectativas, correntes de emoções como orgulho, medo, obstinação, que misturadas à corrente de Eros forma a lambança e o clima ideal para recriar feridas e confirmar as imagens falsas sobre amor que cada um carrega no inconsciente.

Enfim, quem nunca viveu um romance que iniciou com borboletas na barriga, uma enorme alegria, expectativas de que fosse durar "pra sempre" e terminou com acusaçoes mutuas, tédio e tristeza, atire a primeira rede de caçar borboletas. :)

Quanto a mim, nao conheço nenhuma dor mais eficaz pra lidar com as ilusoes do ego do que uma boa e aguda dor de cotovelo! :) :) :)

E o que é a dor de cotovelo senão uma dose cavalar de expectativa e desejo de manter a permanência do  impermanente?

Segundo alguns sabios da humanidade, existem apenas três coisas das quais decididamente sao imprecindiveis à nossa existência (pelo menos neste planeta): ar, agua e pão - e nesta ordem! Eu incluiria na lista, o amor. Mas não aquele "grande amor" que você achou que fosse durar pra sempre. O Amor como energia que tudo constroi e move. E da qual raramente temos consciência...

O filme tem varias cenas com dialogos muito inteligentes e profundos que enfiam o dedo na ferida.

Fique atenta(o)! :)))

"Closer" começa com a leveza que acompanha Eros. A personagem Jane Rachel Jones/Alice Ayres (Natalie Portman) é confiante, segura, cheia de  si e de vida. Esta chegando em Londres porque abandonou uma relação nos Estados Unidos. Dan Woolf (Jude Law)  é um jornalista fracassado,  afundado na estagnação que imerge aqueles que tem medo de amar e de se entregar ao fluxo da vida. A fotografa Anna Cameron (Julia Roberts) também tem medo da entrega. Casa-se com o dermatologista Larry Gray (Clive Owen),  manipulador e controlador, mas vive um romance paralelo com o jornalista Dan Woolf  (Jude Law). Depois, quando Anna assume a relaçao com o jornalista, torna-se amante do marido. Como semelhante atrai semelhante, Anna e Dan, que temem a entrega, sentem-se atraidos um pelo outro.  Dan e Anna sao a metafora da falsa entrega que o Guia descreve na palestra 169. Esse padrao de comportamento é tipico do pessoal que não se conhece, so consegue se entregar parcialmente e enquanto Eros durar... 

O maior estandarte da confusão entre Eros e Amor é o poeta Vinicius de Moraes, com nove casamentos na biografia e seu "Soneto da Fidelidade": "Que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure." E os casais distraidos que adoram recitar este poema em cerimônias de casamento... :))))))) Argh!

O que o poeta nao descobriu - e nem a maioria de nos - é que, enquanto ficarmos correndo atras de Eros, com sua leveza e poesia, nunca saberemos o que é realmente o amor: um estado permanente da alma. o amor é cultivado. Eros, nao.

‎"O amor só pode existir se o seu alicerce for preparado por meio do desenvolvimento e da purificação. O amor não vai e vem ao acaso, Eros sim. Eros atinge com força súbita. muias vezes pegando a pessoa desprevinida e até mesmo não predisposta a passar pela experiência." Palestra Pathwork nr. 44

Ou, como explica o Mestre Eckhart Tolle: "O amor é um estado do Ser. Não está do lado de fora, está bem lá dentro de nós. Não temos como perdê-lo e ele não consegue nos deixar. Não depende de um outro corpo, de nenhuma forma externa. Na serenidade do estado de Presença, podemos sentir a nossa própria realidade sem forma e sem tempo, que é a vida não-manifesta que dá vitalidade à nossa forma física. Conseguimos, então, sentir essa mesma vida lá no fundo de outro ser humano, de cada criatura. Conseguimos enxergar além do véu opaco da forma e da desunião. Essa é a realização da unidade. Isso é amor. O amor não é seletivo, assim como a luz do sol não é seletiva. Não torna ninguém especial. Não é exclusivo. A exclusividade não tem a ver com o amor de Deus, mas com o “amor” do ego. Entretanto, a intensidade do amor pode variar. Pode haver uma pessoa que atue como um espelho do amor que você dirige a ela e que o devolva de modo mais claro e mais intenso do que outras e, se essa pessoa sente o mesmo em relação a você, pode-se dizer que as duas têm um relacionamento amoroso." (O Poder do Agora) 

Ainda temos chão, hein!

Trailler:




A personagem de Alice, a stripper, é um classico de estudo para a palestra 229 do Pathwork. 

Alice era poderosa, segura, vivaz, alegre quando conheceu Dan. Aos poucos, foi se tornando uma palida sombra de si mesma, até se tornar uma menina chorosa, encolhida no sofa. 

Que tipo de distorçao, negatividade e falsa imagem Alice carregava em seu coração para ter se anulado numa relação que ela acreditava ser "amorosa"?

Vamos analisar o caso à luz do Guia: "A nova mulher sabe que amar e entregar-se aos seus próprios sentimentos em relação a um homem aumenta a sua força. Para a mulher da Nova Era não existe conflito entre ser um membro produtivo, criativo e participativo da sociedade e ser uma companheira amorosa. Na realidade o verdadeiro amor não é possível para uma pessoa para quem uma outra se faz de escrava para evitar a responsabilidade consigo mesma. O velho conto de fadas de que a carreira de uma mulher a tornará menos mulher, menos aberta aos sentimentos, menos amorosa, menos equipada para ser uma parceira que dá de si nunca teve qualquer substância.Ao contrário daquele conto de fadas que diz que a feminilidade só desabrocha quando a mulher é apenas uma serva do homem, os sentimentos, na verdade, desabrocham apenas quando a mulher é livre, autônoma, independente no melhor sentido da palavra. A realização depende totalmente de um verdadeiro estado de igualdade. No momento em que um se sente superior ao outro, diminui o respeito e os sentimentos se fecham. No momento em que um se sente inferior ao outro, o ressentimento, o medo, a inveja tornam-se inescapáveis e isso, também, fecha o coração. A nova mulher não é uma escrava do homem, nem tampouco sua adversária. Ela pode amar, portanto, e o seu amor não diminuirá a sua auto-expressão, antes vai aumentá-la, exatamente como a sua contribuição criativa para a vida vai aumentar a sua capacidade de amor. Essa é a nova mulher. O homem, na Nova Era, não mais precisará de uma parceira mais fraca para negar a sua própria fraqueza. Ele encontra a sua própria fraqueza, encara-a e assim ganha a sua verdadeira força. Ele se dá conta de que a sua fraqueza sempre vem da culpa e que a sua autorejeição é sempre uma negação da integridade do seu Self Superior, de uma forma ou de outra. Assim, já não existe nele a necessidade de uma escrava. O homem então não é ameaçado por um igual. Ele não requer um parceiro inferior para se convencer da sua aceitabilidade, a qual, naturalmente, é ilusória." Palestra 229.

Mas o problema nao é somente a distorçao interna!!!! Eckhart Tolle, no livro "O Poder do Agora" fala sobre o corpo de dor individual e coletivo formado pelas emoçoes que nao foram dissolvidas. E esclarece que, quando nos casamos, casamos também com o corpo de dor do outro. Alice parece ter entrado em contato com o corpo de dor de Dan (medroso e chorão) e ter entregue pra ele a energia segura e vivaz que o ajudou a escrever um livro. No filme, a metafora dessa troca é explicita! Dan escreveu um livro sobre a vida de Alice! :))
Mas se Jane/Alice aceitou o corpo de dor de Dan, Anna saltou fora rapidinho! Qual a diferença entre elas? A distorçao e os conflitos internos que cada uma carrega no bau é que faz a diferença. Jane/Alice nao cai na manipulaçao do Larry...  Entao, "conhece-te a ti mesmo" vale mais do que nunca nestes casos...

A cena da despedida de Dan e Alice tem taaaaaaaantos ensinamentos do Pathwork que deveria ser usado em seminarios! :) :) :) :

Alice pergunta por que Dan quer deixa-la pra ficar com Anna:
- "é porque ela é uma mulher de sucesso?"
-Nao. é porque ela nao PRECISA de mim.
- Vc ainda me ama? 
- Sim. (da pra ver no rosto de Dan que ele esta mentindo e se sente mal por mentir).
- Vc esta mentindo. Eu ja estive no seu lugar. 
- Eu odeio te machucar.
- Entao, por que vc me machuca?
- Porque eu sou egoista. E porque eu acho que vou ser feliz com ela. 
- Nao, você nao vai. Vc vai sentir minha falta. Vc nunca vai encontrar ninguem que te ame como eu te amei. Porque o amor nao é o suficiente? Eu sou a pessoa que deve partir. 

Leia as palestras que sugeri e me conte o que vc acha! :) :)

De cara, ja posso adiantar algumas impressoes:
Alice esta afogada em expectativas, distorçoes do amor e da força feminina. Dan sente essas distorçoes e quer se livrar de ser o foco desse amor distorcido se jogando em outra relaçao com uma mulher que nao tem ESSE TIPO de distorçao, e portanto, é independente (ela NAO PRECISA de mim). Neste caso o "amor nao é o suficiente" porque nao é amor. Amor liberta e fortalece (os dois). O restante é ego ferido ("Eu sou a pessoa que deve partir").

Nao encontrei o trecho legendado em portugues. Se vc nao compreende ingles, procure este trecho no link com o filme na integra que postei acima. 





Numa outra cena do filme, Larry, o dermatologista, diz a sua esposa Anna: "Vc esta me deixando porque vc acredita que nao merece a felicidade. Mas vc merece Anna!" Um caso classico do pessoal que boicota a possibilidade de ser feliz e cai na compulsao de recriar feridas (Palestra 73). Ou sera que Anna teve a infalivel intuiçao feminina de que estava casada com o Barba Azul manipulador e que deveria cair fora? Em qualquer dos dois casos, o que esta agindo aqui é a sombra na psique de Anna, a força antagônica que nao a deixa se conectar com seu EU Real e tomar decisões baseadas no amor. Se atira numa relaçao com Dan, que nao é seguro e manipulador como Larry, e depois retorna para o marido porque nao suportou a distorçao do amante (um chorão - como ela o descreve para o marido, mais tarde).

Mais à frente, Larry confessa para um Dan atônito que manipulou a necessidade da esposa de fazer sexo com culpa para conquista-la de volta.

O dialogo entre o marido e o amante de Anna é de uma crueldade e veracidade surpreendente!

Larry - Ela (Anna)  nao quer ser feliz. As pessoas querem ser infelizes pra confirmar sua depressão. Se elas forem felizes vao ter que cair no mundo e viver, o que pode ser deprimente.
Dan - Voce a ama como o dono ama seu cachorro.
L - E o cachorro o ama de volta por cuidar dele.
D - Seu casamento é uma piada.
L - Mas é uma boa piada. Eu transei com ela pra detonar com vc. Uma boa guerra nunca é limpa. E ela adorou, vc sabe como ela adora um sexo culpado...Anna me disse que vc acordava chorando por causa da sua mãe, seu garoto mimado. Vc nao sabe nada sobre amor porque vc nao sabe o que é compromisso.
Dan chora.
Larry entrega o endereço de Alice para Dan numa estratégia manipuladora para afasta-lo de Anna. E depois, enterra a possibilidade dos dois se relacionarem contando que transou com ela.  "Eu nao sou bom o suficiente pra te perdoar, garoto", diz um Larry vitorioso! kkkkkkkkkkkk

No reencontro dos dois, a tentativa de dar certo, mas o "garoto" nao cresceu e deixa o fantasma de Larry entre eles.
Neste dialogo, Alice (Jane) sabe que nao podera construir uma relaçao com um menino, que é incapaz de viver o AQUI E AGORA sem se perder em ilusões e imagens.

Dan -Foi o momento da minha vida.
Alice-Esse é o momento da sua vida.
D -Vc era perfeita.
A -Ainda sou.
D -Vc nao confia em mim. So quero saber.
...
A - Eu nao te amo mais. E nao quero mentir. Eu nao te amo mais. (Alice)
D - Eu te amo.
A -Eu nao ia te contar porque você nao iria me perdoar.
D -Eu te amo.
A - Onde? Onde esta o amor? Mostre-me onde esta este amor. Eu nao posso ver, nao posso tocar, sentir. Eu posso ouvir algumas palavras. Mas nao posso fazer nada com suas palavras faceis. O que quer que você diga, é tarde demais.
D -Fala quem é você.
A -Eu nao sou ninguém.

Apesar da consciência de Alice (seu amor sao palavras faceis), ela também não fez a entrega que cobra de Dan. O que ela chama de entrega foi uma distorçao, uma falsa entrega. Ela acha que deu tudo à Dan. Contou toda a sua vida pra ele, que escreveu um livro. Mas a metafora de que foi uma falsa entrega se revela de forma supreendente no filme: ela nunca disse o nome verdadeiro para o namorado. A unica vez em que ela revela seu nome verdadeiro é enquanto faz streeptease para Larry, na boate (61 minutos do filme). E ele não acredita. Jane (Alice) sente-se segura no clichê mental de mulher fatal e num local onde ninguém pode toca-la.

Larry - Penetrei a sua armadura. Por que você esta usando o nome Jane?
Jane/Alice - Este é o meu nome.
- Vocês mentem sobre o nome pra proteger as identidades. Vai me dizer o seu nome?
- Meu nome, de verdade, é Jane Jones.
- Seu nome é Alice. Nos conhecemos no ano passado.
-Nao era eu.
Larry chora e tenta a manipulaçao, o padrao de comportamento dele.
- Eu te amo. Eu amo tudo que doi em você. Vamos pra casa.
- Eu nao sou a sua transa vingativa.
- Me abraça.
 - Nao podemos nos tocar.
- Deixa eu cuidar de você.
 - Eu nao preciso de cuidados.
- Muitos homens vem aqui pra chorar?
- Riscos da profissao.
- Acaba com meu sofrimento. Vc me deseja porque fui sincero sobre meus sentimentos.
- Seus sentimentos?
- Que seja.
- Nao , eu nao te desejo.
- Obrigada pela sua sinceridade.Alice, me conta alguma verdade.
- Mentir é a maior diversao que uma garota pode ter sem tirar a roupa, mas é melhor se você tirar.

Ela fala o nome verdadeiro porque sabe que ele nao vai acreditar? Ou porque esta tao segura de si no clichê de mulher fatal com que sua mente se identifica que nao teme dizer a verdade?  O nome ficticio que ela escolheu para viver em Londres? Alice Ayres, a garota que morreu salvando crianças em um incêndio. Um sinal explicito de que daria a vida de Alice para o garoto Dan Woolf. ah, os labirintos da psique humana... :))

A verdadeira entrega é aquela que fazemos quando vamos fundo dentro de nos mesmos para dissolver qualquer limitaçao que esteja boicotando a relaçao. Essa entrega, pouquissimas pessoas fazem. Trocar de parceiro(a) é tao mais facil! E seguimos em frente, recitando o poetinha "que seja eterno enquanto dure", com mais uma camada de distorçao cobrindo o coraçao...






Na cena final todos retornam pra suas vidas, usando suas mascaras. Anna repetindo o padrao de infelicidade no aqui e agora; Larry, no mundo onde ele se sente seguro através do controle, manipulando a esposa; Dan, pra sua vida solitaria e frustrada que tinha antes de conhecer Alice; e, finalmente Jane (Alice): belissima,  poderosa, atraindo todos os olhares pra si com a sua persona de mulher fatal, segue seu caminho vivenciando a distorção da feminilidade com uma enorme dor na alma que salta pelos olhos.

Cada um, da sua forma, confirmou as crenças negativas sobre o Amor, boicotou a propria entrega e perdeu o portal que Eros apresentou para vivenciar a plenitude em si mesmo e compartilhar com o outro. 

"Se vc não se conectar com a sua força interna, vivera na confusão, na dor e se tornara um problema pra você, para os outros e para o planeta." (Eckhart Tolle)

Chico Xavier dizia sabiamente que "quem vive desilusões é porque vive de ilusões."

Como a maioria de nos ja deve ter vivido na pele, Eros pode ser um portal poderoso para vivenciar o amor, mas pode ser também uma graaaaande dor de cotovelo. Vai depender da nossa capacidade de viver o AQUI E AGORA sem apegos e expectativas. Vai tentar de novo?

Para acompanhar as reflexoes do Patiework de hoje, sugiro as palestras:

044 As forças do Amor, Eros e Sexo
058 O Desejo pela Felicidade e o Desejos pela Infelicidade
072 A Respeito do Medo de Amar
073 Compulsão para Recriar e Superar as Feridas da Infância
123 Liberação e Paz pela Superação do Medo do Desconhecido
207 O Simbolismo Espiritual e o Significado da Sexualidade

Para baixar as palestras, clique aqui. Ou para nadar em aguas mais profundas, sugiro a leitura do livro "Criando União" e o livro "O Poder do Agora".


 * Patrícia Nascimento Delorme, 40,quebrando as imagens falsas de amor, aprendendo um tanto sobre compromisso e  totalmente recuperada da catarse que teve com este filme em 2007. Nao é Karen Lacerda?  kkkkkkkkkkkkkkk