quarta-feira, setembro 10, 2008

Toró de Parpite nr. 44. Spielberg e os Jogos Olímpicos de Pequim.

Toró nr 44. Matoury-Guiana Francesa, 24 de agosto de 2008. Encerramento das Olimpíadas de Pequim - parte II.


Spielberg boicota oficialmente as Olimpíadas de Pequim (Foto: Reuters)

Caiu como uma bomba em Pequim a notícia de que o diretor Steven Spielberg estava se retirando da consultoria sobre a direção dos espetáculos de abertura e encerramento das Olimpíadas (e que serão efetivamente dirigidos pelos cineasta Zhang Yimou dos maravilhosos "Clã das Adagas Voadoras" e " Lanternas Vermelhas"!). Num comunicado seco, o Comitê Organizador das Olimpíadas disse que a relação que a China mantém com o cruel regime do Sudão é super pró-ativa e que as tentativas de misturar política com jogos eram totalmente contraditórias ao espírito olímpico.
O porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Liu Jianchao, afirmou que existem "motivos subliminares" por trás da decisão de algumas pessoas de ligar Sudão às Olimpíadas, sem elaborar o seu raciocínio. Há dois dias, Spielberg se afastou do espetáculo olímpico alegando problemas de consciência e disse que, dado o poder de influência do governo chinês sobre o governo do país africano, acusado de efetuar um genocídio de minorias/dissidentes, Pequim deveria pressionar pelo fim da matança em Darfur. Não há a menor chance. A África é um continente que vem ficando cada vez mais sob a influência do governo chinês, que vê ali fontes alternativas e seguras de energia para seu crescimento assombroso.
Mas é bom deixar claro que a China não é o único país a cometer a cretinice de bancar, financiar ou apoiar politicamente um país tirano pensando somente em seus interesses. Inglaterra, Rússia e até os EUA fazem há anos isso, com muito mais inteligência, diga-se de passagem. E o mundo inteiro tapa os olhos para a maneira totalitária com que China conduz seu milagre econômico porque a emergência econômica do país no cenário internacional atende aos interesses de um monte de gente - empresas principalmente e Brasil inclusive. ahfalei.com.br
Para quem lê em inglês, Rosemary Righter faz uma concisa e perfeita análise da situação no Times.
Fonte: Gilberto Scofield, correspondente do Jornal O Globo na China.

Ante as críticas, o porta-voz chinês do ministério das Relações Exteriores denunciou a politizacão do evento esportivo e advertiu sobre possíveis novas pressões.
"Não queremos que um acontecimento esperado pelo mundo inteiro se veja perturbado por problemas políticos. É contrário ao espírito olímpico", afirmou Liu.
Os vínculos políticos entre Pequim e Cartum são considerados um freio aos esforços internacionais para pressionar as autoridades sobre a necessidade de resolver a crise de Darfur, que já deixou cerca de 200 mil mortos e 2 milhões de refugiados nos últimos quatro anos, segundo a ONU.
Liu defendeu a política chinesa na província sudanesa ao detalhar seu papel na resolução do conflito, assim como sua contribuição econômica na região.
Uma porta-voz do comitê organizador dos Jogos Olímpicos (Bocog) estimou que a situação no Sudão não deve ser vinculada a este evento.
"Isso não vai ajudar a resolver o problema", afirmou Zhu Jing, pedindo para que se separe o esporte da política."
Fonte: Reuters

OBS da blogueira: Não, senhor Zhu Jing. Não dá mais pra separar esporte da política. Assim como não dá mais pra separar política de absolutamente nada! Pois é a Política com P maiusculo que, se bem executada pode trazer justiça a esse mundinho. E é por falta de uma política descente de esportes, por exemplo, que o Brasil sempre traz a mesma quantidade magrinha de medalhas das Olimpíadas (com todo o respeito aos esportistas brasileiros que fazem milagres pra trazerem até mesmo essa quantidade magrinha...). Vê como esporte e política são e devem ser compatíveis?

Não, senhor Zhu Jing. Tambem não dá mais evitar a politização de eventos como as Olimpíadas pois se este é o instrumento para pressionar qualquer país para o respeito pelos Direitos Humanos, entre outras coisas, então usemos cada vez mais esse instrumento de pressão e pouco me importa em qual país é sediada a Olimpíada.


Alias, "motivos subliminares" é a desculpa que o Brasil tambem utiliza pra encarar manifestações internacionais pro-amazônia. Se pra salvar a Amazônia o Brasil tiver que passar carão mundial em abertura de Olimpíada, participarei da politização com prazer. E não me venha o auto escalão do Ministério da Agricultura brasileiro com o discurso de que isso é pressão das ONGs e multinacionais estrangeiras que não querem o desenvolvimento do Brasil. Isso me dá vontade de vomitar!

Segundo agências de noticias, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, o diplomata sul-coreano Ban Ki-Moon, teria afirmado inacreditavelmente que "a capital chinesa vai sediar a melhor Olimpíada da história e que os Jogos Olímpicos são o lugar onde todos os atletas e povos do mundo promovem a compreensão recíproca, a harmonia, a reconciliação e a amizade por meio das competições."
Bla, bla, bla, bla, bla, bla...
Como cantam os Engenheiros do Hawai, "Eu presto atenção no que eles dizem, mas eles não dizem nada,Toda forma de poder é uma forma de morrer por nada,Toda forma de conduta se transforma numa luta armada...uma cruzada...
A história se repete mas a força deixa a história mal contada... muito mal contada..."
Qual seria o "motivo subliminar" do secretário-geral da Organização das Nações Unidas afirmar que "a capital chinesa vai sediar a melhor Olimpíada da história"?

Desde quando destruir recursos naturais sem planejamento e fiscalizaçao é sinal de desenvolvimento? Isso é sinal de cegueira estratégica, isso sim! Das 20 cidades mais poluídas do mundo, 16 são chinesas. Isso deveria dizer algo, nao?
Sabe quem mais explora ilegalmente o ouro da amazônia francesa? Os mesmos brasileiros que exploram ilegalmente a amazônia brasileira!!!!!!!!!!!!!

"A amazônia é nossa!" - gritam os nacionalistas medíocres.
Nossa o quê, cara pálida? Eu não tenho nenhum pedaço da amazônia. Não exploro ouro, madeira, minerios, índios, mão-de-obra barata de gente faminta. Não tenho gado por lá. E acredito que a maior parte dos nacionalistas medíocres também não. Então, não entendo porque gritar a Amazônia é nossa. A Amazônia é de quem nasceu e tenta sobreviver naquelas terras sem condições, esquecidos por muitos governos incompetentes deste país que não consegue ter um plano sério de desenvolvimento sustentavel. A Amazônia é também dos gaiatos que se aproveitam da incompetencia e corrupçao endêmica deste país pra ganharem dinheiro, muito dinheiro enquanto nacionalistas medíocres gritam "a Amazônia é nossa!"

Que pena que tão poucas pessoas no mundo seguiram os passos do cineasta Steven Spielberg. Mas é um começo! Aguardemos a proxima Olimpíada para vermos qual será a bandeira levantada pelos que não estao contentes nem com a direita, nem com a esquerda, nem centro isso ou aquilo, mas que quer simplesmente um mundo mais justo onde se possa criar seus filhos. Aos nacionalistas e ao Ministério da Agricultura brasileiro, eu digo: mal posso esperar pela proxima Olimpíada, quando teremos muitos Spielbergs.

* Patrícia Nascimento Delorme, 36, jornalista e mãe do Luka, espera apresentar um mundo melhorzinho para seu filho. Seu e-mail: patiedelorme@gmail.com

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