quarta-feira, julho 18, 2012

A Entrega

Lans en Vercors, França. Verão. Sol, céu azul. Uns 25°C. 11 da manha.

O PatieWork de hoje é sobre a ENTREGA. Aquele momento da vida em que você ja fez tudo o que era possivel ser feito e nao ha mais nada a fazer a nao ser acreditar que o Universo vai trazer uma solução para a confusão que você criou ou se meteu por ignorância das leis da VIDA. Aquele momento preciso da vida em que conseguimos transmutar a negatividade em positividade e nos abrimos para o nosso EU SUPERIOR, para recebermos a intervenção do Espirito Santo, o embaixador de Deus na nossa consciência.

As palestras do Pathwork sobre este assunto sao as de numero:
254 - A Entrega
114 - A luta saudavel e doentia
125 - A transiçao da corrente do não para a corrente do sim
048 - A força vital
Para baixar as palestras, clique aqui.

E o filme pra ajudar na reflexão é CAST AWAY (O Naufrago), do diretor Robert Zemeckis, com Tom Hanks e Helen Hunt.




O filme conta a história de Chuck Noland,um homem workaholic (adicto em trabalhar), completamente identificado com o tempo do relogio (O Poder do Agora, pagina 32). Noland esta sempre ocupado demais para prestar atenção em si mesmo. Um general eficiente do mundo globalizado onde o   lucro e à eficiência competitiva estão em primeiro lugar, em detrimento das relações. Noland não tem tempo para a familia, a noiva, ou mesmo para ir ao dentista. Na noite de Natal, ele viaja a trabalho, mas o avião da companhia cai no mar e ele é o único sobrevivente. Isolado em uma ilha, onde permanece por quatro anos, Noland entra em contato com o que ha de mais aterrorizante: a solidão, o tempo psicologico (representado pelo retrato da noiva), o tempo do relogio (representado pelo relogio que ela lhe deu de presente de Natal) e o seu mundo interior.

Todo o filme é permeado por simbologias poderosas. "Quem tiver olhos de ver...", como diria Jesus. Abaixo, as reflexões que o filme desencadeou em mim.

Cast Away é uma bela metáfora desta nossa pequena e frágil lição chamada VIDA. E sobre a vida contemporânea, sempre tão repleta de distrações... E entre tantas distrações, perdemos o nosso foco: o nosso centro, a qualidade das relações, a amizade e o amor que permeia todas as relaçoões. "O que se leva desta vida, coração, é o amor que a gente tem pra dar", como cantava Elba Ramalho. Nesta cena brilhante, a noiva de Noland lhe da de presente um relogio com sua fotografia: um simbolo significativo do tempo do relogio e o tempo psicologico. Segundo Eckhart Tolle, o tempo psicologico é a identificação com o passado e a projeção compulsiva e continua no futuro, de modo que, nunca estamos PRESENTES no AGORA, marcado pelo tempo do relogio. (O Poder do Agora, Eckhart Tolle, pagina 32).



Esta cena fantastica do acidente do avião é uma representação impactante sobre o momento preciso em que descobrimos uma situaçao terrivel em nossa vida e tudo o que podemos fazer é respirar e tentar acalmar a mente que esta gritando "COMO ISSO PODE ACONTECER COMIGO?" Pode ser uma separaçao, uma morte, uma perda, uma doença, a noticia de que alguém que você ama é adicto em drogas, aquele projeto que você investiu toda a sua energia foi por agua abaixo, uma mudança pra outro pais contra a sua vontade... Enfim, um momento chave que a vida nos impõe para que aprendamos algo importante para a nossa alma. Se vamos conseguir sobreviver vai depender da nossa capacidade de respirar e nos acalmarmos para recolher os cacos e vivenciar o que precisa ser vivenciado NA PAZ!




A ilha, onde Noland chega depois de sobreviver à situaçao critica, tem varios significados. Encontre o seu. Mas para mim, ela significa aquele segundo momento depois que o pior passou.  Quando ja conseguimos respirar e precisamos agora colar os cacos, acolher o que se apresenta e traçar estratégias de ação. é um momento importante porque vai definir como você vai lidar com o AGORA. E se você decidir pela alienação ou agir pautada pela obstinaçao, vai se machucar!
O personagem do filme tenta sair da ilha remando desesperadamnete e as ondas o jogam de volta nos recifes de onde ele sai todo rasgado, entendeu?
Quando a ilha é uma situação, muitas vezes nos deixamos ficar na zona de conforto, por medo ou comodismo, imaginando que seja um porto seguro. O preço é altissimo. Começa com uma tristeza, um desânimo e pode chegar à depressao e ao "Cansaço do Mundo", palestra Guia Pathwork nr. 004.
A ilha também pode ser nosso espaço interior. Cada um de nós é uma ilha e, na maior parte do tempo, proibimos ou dificultamos que as pessoas que julgamos amar adentrem este espaço. Prato cheio para a palestra  nr. 072 - A Respeito do Medo de Amar. 


Sobre obstinação, aprendi bastante nesses 40 anos... :)))) Esta cena de Noland se atirando ao mar com uma motivação obstinada para sair da ilha é primorosa! No momento em que ele vê a grande onda, ele sabe que nao pode fura-la, mas tenta mesmo assim e se machuca. Perceberam o quanto nos gastamos energia e nos machucamos ao tentar vencer as "ondas", em vez de conhecê-las e encara-las como portais para o nosso crescimento? Depois do grande "caldo" daquela imensa onda, Noland desiste de lutar deseperadamente gastando energia e se machucando e decide aceitar sua realidade como ela se apresenta. Encontra um lugar seguro pra viver e aproveita cada utensilio que o Universo, através do mar, traz pra ele. Passa a estudar o mar e o movimento das ondas, o vento, as chuvas, para poder sair da ilha.



Um dia, o Universo envia pelo mar um pedaço do aviao. Noland fica meditando e encontra a resposta para sair da ilha. Este trecho também tem uma mensagem importante: "Deus manda o frio conforme o cobertor", conhece? No inicio do filme, a camera "passeia" pela casa de Noland e da pra ver nas fotos e nos prêmios que o cara é campeão de veleiro e sabe muito de navegação. Ou seja, Deus te testa onde você pode ser testado. Este momento do filme é um exemplo perfeito da palestra Pathwork nr. 169. A utilizaçao da ativação e da receptividade, o trabalho aliado à confiança de que vai dar certo. Noland se prepara para sair da ilha.Faz calculos, conhece o movimento do mar, pois passou quatro anos observando. Sabe a melhor época para sair.Constroi uma jangada, faz reserva de agua doce da chuva. Quando chega a hora de agir, se atira no mar. Mas agora nao existe a motivaçao obstinada, nem a duvida, como na primeira tentativa. Noland esta totalmente CONSCIENTE E PRESENTE. E quando ele ultrapassa a grande onda é o momento apice da nossa vida quando conseguimos, finalmente, sair de uma situação que nos sugava as forças, a alegria. Quando percebemos que estivemos todo este tempo numa ilha. Uma ilha tão pequena que nos custa a acreditar porque demoramos tanto pra descobrir que não era um porto seguro...





No filme, Noland nao aguenta a solidão e cria um amigo imaginario. Desenha olhos e boca numa bola e o batiza de "Wilson" (a marca da bola). Uma simbologia poderosa da nossa necessidade de amigos, ainda que sejam imaginários, pra ajudar a gente a suportar as tempestades. Uma das cenas mais tocantes é quando Noland tem que escolher entre a propria vida ou resgatar Wilson (o amigo imaginario) no mar. E ele chora e pede perdao ao amigo por nao poder ir busca-lo. Nao chora pela bola, mas pela significado de amizade profunda que ele construiu. Chora, talvez, pela perda de todas as relações que ele deixou de construir. Chora por todos os anos que não chorou...


                                         

Uma outra cena poderosa é quando Noland, cansado de lutar, deposita os remos no mar e deita-se na jangada, numa atitude de imensa entrega e confiança de uma pessoa que fez tudo que podia para alcançar o objetivo mas, percebe e assume a sua fragilidade perante a grandeza do mar-vida. Nada mais pode ser feito. Seu gesto de depositar os remos no mar é uma completa entrega da sua vida nas mãos da Vida. Uma entrega do ego para o EU SUPERIOR. O momento em que percebemos os limites e nos voltamos para Deus, Jesus, Buda, Oxalá, Maomé, Tupã, Jeová. Quando entendemos que os caminhos da VIDA, às vezes, são diferentes dos projetos do pequeno eu. Como ensina o Guia na palestra nr. 254: "a entrega significa liberar-se do ego, das idéias, metas, desejos e opiniões por tanto tempo acalentados - tudo pelo bem da verdade. Pois Deus é a verdade. Você também precisa render-se aos seus próprio sentimentos. Se você não fizer isso, irá sempre empobrecer-se e cortar sua natureza de sentimentos. Você se tornará um autômato."

Para viver A ENTREGA é preciso compreender o verdadeiro sentindo da resignação e aceitar o que a Vida tem para nos ofertar. Uma compreensão absoluta do principio feminino da entrega confiante, descrito na palestra nr 169 - Os Princípios Masculino e Feminino no Processo Criativo". Esta pequena meditaçao-prece que escrevi em 2001 me ajuda muito nos momentos em que estou com dificuldades de vivenciar a entrega: "Eu deposito os meus remos no mar-Vida neste instante. Vou para onde a Vida me acolher. Para onde as ondas do Amor me levar. Porque será feita sempre a vontade do Pai/Eu Superior em minha vida, e nunca a vontade do Filho/Ego. Assim será. Os remos já foram abandonados. Que assim seja."

Infelizmente, nao encontrei a cena na internet, mas neste trecho, Noland é seguido por uma baleia que lhe aparece varias vezes. Outra simbologia marcante no filme sobre morte do ego, renascimento, e forças do insconsciente guiando Noland até a salvação e o resgate. A cena da baleia jogando agua para que ele acorde e veja o barco passando é maravilhosa!!!!!!!!!!!!
"Durante muito tempo considerada um peixe, a baleia é um mamífero que pelo seu tamanho e forma foi considerada uma deusa do mar. Enquanto divindade, a baleia é um símbolo de renascimento associada ao fato de ser também um suporte do mundo. Em muitas tradições, existe um mito iniciático de passagem pelo ventre da baleia como uma espécie de renovação espiritual ou metafísica. O episódio bíblico da baleia que engoliu Jonas é um dos mais difundidos da cultura ocidental, já que o peixe é o símbolo por excelência do cristianismo e nesta época acreditava-se que a baleia era um peixe. Jonas sobreviveu três dias dentro da baleia, o mesmo período de tempo que decorreu entre a morte e a ressurreição de Cristo. Por isso se crê que Jonas sofreu uma morte iniciática e a sua saída do ventre da baleia é uma ressurreição simbólica. Nesta história, é clara a representação do ritual de iniciação do mito da reencarnação. Na Babilonia, a baleia era uma deusa marinha, mãe mítica da rainha Semiramis, e aquela que tinha engolido e regurgitado o rei Oannes, dando-lhe vida. Existe uma história semelhante na Escandinávia de um herói engolido por um peixe gigantesco, que era na verdade o ventre de uma bruxa, antes de renascer de novo. O mesmo mito pode ser encontrado na Polinésia, em que um herói conseguiu sobreviver depois de ter estado no ventre de um monstro marinho. No Vietnam, a baleia é um animal sagrado, que protege os pescadores dos naufrágios e os guia a bom porto, sendo também responsável, junto dos povos das montanhas do Vietnam, por trazer no seu ventre uma criança salvadora do mundo. Na Islão, a baleia é mencionada no Alcorão num episódio de uma viagem de Moisés e também como fazendo parte da mitologia do cosmos. Nessa simbologia, a Terra estava segura por um anjo que se apoiava sobre um rochedo que estava pousado em cima de um touro que por sua vez repousava em cima de uma baleia chamada Nun, que estava nas águas. Segundo a tradição, Nun é tentada pelo demonio a libertar-se de todo este peso, e quando tal acontece surgem os tremores de terra, que não são mais do que as sacudidelas da baleia. A passagem pelo ventre da baleia é considerada uma espécie de passagem pelo inferno, como castigo ou purificação. A baleia simboliza também o desconhecido e o tesouro escondido, tal como os mitos da caverna." http://www.infopedia.pt/$baleia-(mitologia)

Depois do resgate, o retorno ao mundo e o reencontro com o passado. Este deve ter sido o trecho do filme que mais chorei depois que ele sai da ilha. :)))) Noland reencontra a amada que já está trilhando um outro caminho e exige dele a lição mais dolorida de uma encarnação: a renúncia. Renunciar não é só abrir mão de um sonho ou desejo. Renunciar é enfrentar o buraco, o vazio, o escuro, o mar da dúvida à nossa frente. É nos rasgarmos para que a dúvida seja digerida, compreendida e, acima de tudo ACEITA. É nos abrirmos em novas dúvidas para que a claridade volte a reinar. Mas nem tudo são dores. Renunciar é acatar o caminho que se apresenta e acabar com a divisão interna. O ensinamento budista de que você esta exatamente onde deveria estar" me ajuda a acalmar a ansiedade ao pensar "e se eu tivesse escolhido de outra forma?" Mas uma coisa é certa, se esta pesado, a gente esta no lugar errado. Como diz a Helena Tannure, ‎"o centro da vontade de Deus é um lugar de luta e confronto, mas é um lugar de paz. Flua. E deixe fluir o rio de Deus na sua vida, na sua critividade, em nome de Jesus (o EU CRISTICO)." Para fluir é necessario prestar atenção ao coração, que "precisa de paz pra sorrir", como canta Renato Teixeira. E a paz vem de estarmos alinhados com o nosso centro. Por fim, renunciar a um caminho é fazer novas escolhas entre os muitos caminhos que surgirão nas encruzilhadas da Vida. E aí um círculo estará completo para se iniciar um outro. Assim é a vida. De círculo em círculo, de ilha em ilha, de caminho em caminho até a perfeição da consciência cristica.



Acredito que nós contruímos nossa vida a cada decisão tomada – ou não tomada, se for o caso. E assim como a personagem, que não ficou esperando o barco vir salvá-la, acredito que somos responsáveis pela nossa felicidade ou infelicidade na medida em que ouvimos (ou não ouvimos) os sinais que a vida nos dá. A cena de Noland deixando a ilha foi motivo de lágrimas, muitas lágrimas (quem ja foi comigo ao cinema sabe do chororo que isso representa! kkkkkkkkkkkkk). Revendo o filme, percebi como minha vida tem sido um infindavel entra e sai de ilhas porque nao tive a sabedoria de encerrar ciclos pra iniciar um outro. Faço comida nova com panela suja, como ja me alertou o I-Ching 15 anos atras...
No filme, Noland retorna pra casa (seu centro) e redescobre a humanidade em si mesmo. O amor pelas pessoas. O respeito pelas relações. Olha nos olhos do companheiro de trabalho e diz: "eu sinto muito que eu nao estava ao seu lado quando sua esposa faleceu" ou "algo me dizia que eu ia conseguir sair daquela ilha, e agora, eu estou aqui com você. Eu tenho gelo no meu copo." Um profundo encantamento pelo momento presente.
 Leonardo Boff costuma dizer que não há ressurreição sem a sexta-feira da paixão. Assino embaixo. Do alto dos meus 40 anos e quatro anos de Pathwork, a unica certeza que trago é de que a não aceitação do presente te leva pra zona de arrebentaçao de ondas e da-lhe caldo! kkkkkkkkkkkkkkk
E o contrario, a aceitaçao do momento presente, acalma. A serenidade te conecta com o seu centro. E no seu centro estão todas as soluções criativas e perspectivas infinitas para viver o AGORA alegremente. Pra escolher novamente mas, desta vez, consciente. Sem medo de amar e sem negatividade!



Pra nadar em aguas mais progundas, indico os livros:
"Entrega ao Deus Interior", Eva Pierrakos e Donovan Thesenga
"O Efeito Sombra", D. Ford, D. Choopra, M. Williamson
"O Poder do Agora", Eckhart Tolle


Boa meditação!

  * Patrícia Nascimento Delorme, 40, integrando a liçao da entrega confiante.

2 comentários:

  1. Um excelente texto desvendou as metaforas desse filme que nunca canso de assitir pois sempre descubro algo, repleto de simbologias e o que dizer das perolas que escreveu sao tantos pormenores que revelou que me instigou a ler ate o fim!! Adorei!!!

    ResponderExcluir
  2. Patrícia, olá!
    Vim conhecer seu blog e encontrei um tesouro.
    Quando assiti este filme senti uma mensagem importante. Agora lendo suas palavras completou lindamente o que eu havia sentido.
    Muito bom. Gostei demais.
    Um abraço gostoso de sua mais nova amiga do Facebook.
    Astrid Annabelle / Ma Jivan Prabhuta

    ResponderExcluir