sábado, novembro 02, 2013

A outra face da raiva

O Patiework de hoje é sobre a raiva. O filme escolhido para ilustrar é "A Outra Face da Raiva".

Sugiro que você assista o filme primeiro porque comento o filme todo, inclusive o final.
Versao em português.



As palestras do Pathwork que vão guiar nossa reflexão sobre a raiva sao: Nr. 102 - Os Sete Pecados Cardeais; Nr. 140 - Ligaçao ao Prazer Negativo como Origem da Dor; Nr. 154 A Pulsaçao da Consciência; Nr. 155 Medo do Eu, Dar e Receber; e, os Capitulos 6 (A procura da nossa turma) e 12  (Os limites da raiva e do perdão) do livro "Mulheres que Correm com os Lobos".

O filme "A Outra Face da Raiva" é a historia de uma mulher amargurada e cheia de furia que foi abandonada pelo marido. Passa os dias deprimida, bebendo e procurando informaçoes sobre a Suécia, pais de origem da ex-secretaria do marido, com quem ela acredita que ele tenha fugido.
Ela é mae de quatro adolescentes que estao se tornando mulheres, descobrindo a sexualidade, o casamento, a independência, enfim, tornando-se adultas. Como é uma mãe ferida, prostrada (Capitulo 6), as experiências das filhas são lenha que aumentam o fogaréu de sua furia.

Se considerarmos cada um dos personagens do filme como um componente pertencente à psique de uma unica pessoa, teremos  5 mulheres, entre 15 e 50 anos, vivenciando diferentes etapas da vida. A menina de 15 anos representando a criança interior; a mãe, o ego furioso; e o vizinho que interage com todas elas, a força masculina (o animus).

O filme é narrado através dos olhos da criança interior, a menina de 15 anos, que diz este texto no final do filme:

"A raiva pode incendiar e bloquear o nosso caminho. Mas é real, a furia. Mesmo quando nao é, pode mudar você, transformar você, moldar você, fazer de você algo que você nao é.
Assim, a outra face da raiva é a pessoa que você se torna. E se Deus quiser, alguém (a sua criança interior) acorda e percebe que nao tem medo da sua jornada. Alguém que sabe que a verdade, na melhor das hipoteses, é uma historia parcialmente contada e que a raiva, assim como o crescimento, vem em jatos e, em seu caminho, deixa uma nova possibilidade de aceitaçao e a promessa de calma."

Quem acorda? A nossa criança interior, que nos leva pela mão para a floresta interna, o inconsciente, para enfrentar a raiva e dissolvê-la. Clarissa Pinkola aconselha, no livro Mulheres que Correm com Lobos: "Na maioria dos casos, parece ser melhor ir quando se é chamada (ou empurrada), quando se tem alguma impressão de ser capaz de ter agilidade e elasticidade, do que hesitar, resistir, contemporizar, até que as forças psíquicas venham agarrá-la e arrastá-la, ferida e sangrando, por todo o processo de qualquer jeito. Às vezes, não se tem a opção de manter o equilíbrio; mas, quando ela existe, consome menos energia aceitá-la" (pagina 583).

Na minha infância vivenciei muitas cenas de hostilidade e raiva ativa (direcionada para os outros) e passiva (direcionada para si num processo autodestrutivo) que foram deixando marcas profundas e uma aprendizagem da auto-afirmaçao através da agressividade destrutiva, a distorção do poder. O ensinamento de Jesus "ofereça a outra face" foi interpretado pelas mulheres à minha volta como "fique calada diante da injustiça ou da desconsideração". Tive que caminhar com meus proprios pés para descobrir que a poderosa resistência passiva que Gandhi ensinou multidões a fazer é bem diferente do fato de uma pessoa ser incentivada ou forçada a se calar para poder sobreviver a um abuso ou situação insuportável na família, na comunidade ou no mundo. Nesse caso, a pessoa perde o contato com a intuição, e seu silêncio não é de serenidade, mas simboliza uma enorme defesa para não sofrer mais violência. É um erro acreditar que, só porque a pessoa está calada, ela aprova a vida que leva. Assim, a pessoa que não compreende como lidar com a raiva e silencia esta praticando uma falsa entrega e resistindo ao mal, criando uma espiral descendente onde os niveis de furia vão aumentando cada vez mais.

Em 2008, vivenciei a experiência da imigraçao do Brasil para a Guiana francesa e o apice da minha colera ao acreditar que nao tinha co-criado aquela realidade em minha vida. Durante os três anos que vivi na Guiana Francesa tive a felicidade de estudar o Pathwork, perceber a guidança pelo Caminho, compreender a raiva, direciona-la para o autoconhecimento e para a construçao objetiva das minhas escolhas. Muito grata aos terapeutas do Pathwork Helo Knoedt e Gustavo Monteiro; e os terapeutas da criança interior, Jean-Jacques e Richard Verboomen, com quem tenho aprendido a colocar os bichos pra fora em segurança.

Compartilho com vocês o texto da Helo que foi minha lanterna na selva escura em 2009: "Raiva é uma emoção normal, saudável, construtiva. É uma espécie de defesa contra situações que ferem a nossa dignidade. Quando ficamos frustrados, decepcionados, humilhados, quando somos feridos e não suportamos estes sentimentos tão vulneráveis, costumamos usar a raiva para nos defender. Mas é bom que fique claro que nos defendemos principalmente contra a emoção que não suportamos e que antecede à raiva.
A raiva se torna negativa quando a pessoa tem medo dela e se esforça para evitá-la. Porque quando reprimida a raiva sai do controle ou fica dissimulada, escondida por baixo de uma bondade forçada. A natureza da raiva vai da leve irritação até a fúria e crueldade, é sempre acompanhada de mudanças fisiológicas (aumento da pressão arterial, dos níveis hormonais (especialmente adrenalina e noradrenalina), aceleração dos batimentos cardíacos, força muscular, dilatação das pupilas) e psicológicas (a pessoa fica pronta para lutar ou fugir). Raiva é orgânica, é uma resposta adaptativa às ameaças.
A manifestação instintiva, natural e saudável da raiva é agressividade direcionada para fora. Raiva inspira força, comportamento assertivo e agressivo quando se trata de defesa contra ameaça. É extremamente necessária à sobrevivência. No entanto, raiva não é provocada somente por motivos externos; acontece também de ser provocada por motivos internos, como ativação de memória traumática, preocupações, inibição.
Todos guardamos na nossa memória sentimentos de muita vulnerabilidade que vivemos na infância, e isso não depende de termos tido pais bons ou não tão bons. Isso é um fenômeno humano – 14 anos (ou mais) de submissão a uma autoridade nos deixa muito vulneráveis.
Aprendemos, desde cedo, a não jogar raiva para fora, porque as leis, as normas sociais e o senso comum limitam até onde ela pode ir.
Existem três maneiras de lidar com a raiva: Expressar / Suprimir / Acolher.
EXPRESSAR - a raiva expressada é assertividade. Para que não seja destrutiva, é importante que a pessoa tenha consciência, “olhe” para a raiva. Olhe para a raiva e procure reconhecer qual a necessidades frustrada por trás dela para que possa dizer com clareza qual a sua necessidade, respeitando o outro.
SUPRIMIR - a raiva suprimida torna o sujeito passivo/agressivo e pode levar à expressão patológica (síndrome do descontrole episódico), ao cinismo, hostilidade, dissimulação. Raiva suprimida não significa que a pessoa não seja agressiva. Pelo contrário, justamente por tentar controlar compulsivamente a raiva, esta termina saindo de forma descontrolada e até destrutiva. ACOLHER - as técnicas utilizadas para o controle da raiva devem ajudar a pessoa a controlar o comportamento externo sem reprimir a emoção. A maneira mais eficaz para controlar sem reprimir é acolher a raiva, o que é feito através da auto-observação das próprias reações aos eventos (internos e externos) e da respiração consciente.
Com a prática isto leva o sujeito a assumir responsabilidade pelo que sente, ao invés de atribuir culpa ao outro. È importantíssimo trabalhar a respiração (respirar com ênfase na expiração), buscar controlar os batimentos cardíacos e acalmar a reação às emoções e sentimentos. Este método é chamado de ACALMAR A RAIVA." (Helo Knoedt)

O capitulo 12, do livro "Mulheres que Correm com os Lobos", é um verdadeiro tratado sobre a cura da psique furiosa. Clarissa Pinkola esclarece que "há uma época na nossa vida, geralmente na metade da vida, em que precisamos tomar uma decisão — possivelmente a decisão psíquica mais importante para nossa vida futura — a respeito de nos tomarmos amargas ou não. As mulheres costumam chegar a esse estágio pouco antes ou pouco depois dos quarenta anos. Elas estão num ponto em que estão "cheias até a raiz dos cabelos", em que "para elas, chega", em que isso foi a gota d'água" e em que "estão irritadas a ponto de explodir". Seus sonhos de quando tinham vinte anos podem estar jogados de qualquer jeito. Pode haver corações partidos, casamentos desfeitos, promessas esquecidas. Qualquer um que viva muito acumula lixo. Não há como evitá-lo. No entanto, se a mulher quiser voltar à sua natureza instintiva em vez de mergulhar numa atitude amarga, ela renascerá, revitalizada. Um dia chega a hora de perdoar a fim de liberar a psique para que ela volte a um estado normal de calma e paz.
Quando a mulher enfrenta dificuldades para se livrar da raiva ou da fúria, muitas vezes é porque ela está usando a raiva para ganhar forças. Embora a princípio essa possa ter sido uma decisão sábia, com o tempo ela precisa ter cuidado, pois a raiva constante é um fogo que queima sua própria energia vital. Encontrar-se nesse estado é como voar pela vida com "o pé na tábua"; como tentar levar uma vida equilibrada com o pé no acelerador até o fundo. O ímpeto da fúria não deve ser considerado um substituto da vida cheia de paixão. Não é a vida na sua melhor forma. Trata-se de uma defesa cuja manutenção é muito cara, depois de passada a necessidade da sua proteção. Após algum tempo, ela arde incessantemente, polui nossas idéias com sua fumaça negra e prejudica outras formas de visão e de percepção.
Por isso, a limpeza da fúria residual precisa se tomar um ritual de higiene periódica, um ritual que nos libera, pois carregar a raiva antiga além do ponto de sua utilidade equivale a carregar uma ansiedade constante, mesmo que inconsciente. Às vezes as pessoas se confundem e pensam que estar presa a uma raiva ultrapassada significa queixas e enfurecimentos, acessos de raiva e de atirar coisas. Na maioria dos casos não é assim que funciona. Estar presa significa estar cansada o tempo todo, ter uma grossa camada de cinismo, destruir a esperança, frustrar o novo, o promissor. Significa ter medo de perder antes de abrir a boca. Significa chegar ao ponto de ebulição por dentro, deixando transparecer ou não. Significa amargos silêncios defensivos. Significa sentir-se desamparada. Existe, porém, uma saída, e é através do perdão.
"Ora, através do perdão?" você dirá num tom de repúdio. Pense no seguinte: muitas pessoas têm dificuldades com o perdão porque lhes ensinaram que ele é um ato único a ser concluído de uma vez. Isso não é correio. O perdão tem muitas camadas, muitas estações. Na nossa cultura existe a idéia de que o perdão é absoluto. Tudo ou nada. Também nos ensinam que perdoar significa fechar os olhos, agir como se algo não tivesse ocorrido. Isso também não é verdade. A mulher que conseguir atingir 95% de perdão de alguém ou de algum acontecimento trágico e danoso está praticamente qualificada para a beatificação, se não para a santidade. Se ela sentir uns 75% de perdão e 25% de "não sei se vou um dia conseguir perdoar totalmente, e nem sei se quero isso", estará mais próxima do normal. No entanto, 60% de perdão acompanhados de 40% de "não sei, não tenho certeza e ainda estou pensando nisso" já são uma atitude decididamente satisfatória. Um nível de perdão de 50% ou menos pode ser considerado como esforço em andamento. Menos de 10%? Ou você está apenas começando, ou ainda não está se esforçando.

 Os quatro estágios do perdão:
1. Deixar passar — deixar a questão em paz, é bom deixar passar algum tempo, deixar de pensar provisoriamente na pessoa ou no acontecimento, tirar umas férias do assunto. Isso ajuda a evitar que fiquemos exaustas, permite que nos fortaleçamos.
 2. Controlar-se — significa ter paciência, resistir, canalizar a emoção. Esses são medicamentos poderosos. Faça tanto quanto puder. Esse é um regime de purificação. Você não precisa fazer tudo; você pode escolher um aspecto, como o da paciência, e praticá-lo. Você pode se abster de palavras, de resmungos punitivos, de agir de modo hostil, ressentido. Ao evitar punições desnecessárias, você estará reforçando a integridade da alma e da ação. Controlar-se é praticar a generosidade, permitindo, assim, que a grande natureza compassiva participe de questões que anteriormente geravam emoções que iam desde a ínfima irritação até a fúria.
3. Esquecer — Esquecer não quer dizer entorpecer o cérebro. O esquecimento consciente consiste em deixar de lado o acontecimento, não insistir para que ele permaneça no primeiro plano, mas permitir que ele seja relegado ao plano de fundo ou mesmo que saia do palco.
4. Perdoar — o abandono da dívida. É uma decisão consciente de deixar de abrigar ressentimento, o que inclui o perdão da ofensa e a desistência da determinação de retaliar. É você quem decide quando perdoar e o ritual a ser usado para assinalar esse evento. É você quem resolve qual é a dívida que você agora afirma não precisar mais ser paga. Isso não quer dizer que você deva enfiar a cabeça no ninho da cobra, mas, sim, ser sensível a partir de uma postura de compaixão, segurança e preparo. O perdão é onde vão culminar toda a abstenção, o controle e o esquecimento. Não significa abdicar da própria proteção, mas da própria frieza. É melhor para a psique da alma restringir ao máximo o tempo de exposição às pessoas que são difíceis para você do que agir como um robô insensível.

Como a mulher sabe que perdoou? Você passa a sentir tristeza a respeito da circunstância, em vez de raiva. Você passa a sentir pena da pessoa em vez de irritação. Você passa a não se lembrar de mais nada a dizer a respeito daquilo tudo. Você compreende o sofrimento que provocou a ofensa. Você prefere se manter fora daquele meio. Você não espera por nada. Você não quer nada. Não há no seu tornozelo nenhuma armadilha de laço que se estende desde lá longe até aqui. Você está livre para ir e vir. Pode ser que tudo não tenha acabado em “viveram felizes para sempre”, mas sem a menor dúvida existe de hoje em diante um novo "Era uma vez" à sua espera." (Mulheres que Correm com os Lobos. Clarissa Pinkola Estés, pag 456)

A palestra 155 do Pathwork esclarece que, quando "a força positiva é deformada, perturbada, transformada, distorcida, tornando-se assim negativa. Não é uma força diferente que começa a existir. A raiva não é uma emoção ou corrente de energia nova. Ela é feita da mesma substância original que o amor, e pode voltar a se transformar em amor, se permitirmos."

No filme, esta transição do odio para o amor é vivenciada quando a personagem descobre que a traição do marido era uma ilusão criada pela sua mente e emoçoões doentes. Seu marido estava morto no quintal de sua casa.
O enterro do marido simboliza o enterro das velhas emoções para que a personagem se permita vivenciar um outro "Era uma vez".


Para ler Mulheres que Correm com Lobos, clique aqui.

Para baixar as palestras do Pathwork citadas, clique aqui.

* Patrícia Nascimento Delorme, compreendendo e agradecendo à mestra raiva "Arigato zaichö" (Muito Grata, Ilusão).

terça-feira, junho 25, 2013

V de Vingança, de Vinagre ou de Verdade?

O “Patiework” da vez é sobre a rebelião X obediência às autoridades (palestra 46); a dependência das opiniões alheias (palestra 51 e 57); e a importância de vivenciar todas os sentimentos para resgatar a intuição (palestra 190).



Em tempos de ativismo autoral e social, manifestações pelas ruas do mundo e gas lacrimogênio, recebi o link do filme V de Vingança (V for Vendetta), lançado em 2006, mas que nao tinha atraido minha atençao até hoje.

A máscara do protagonista do filme tornou-se um símbolo para os ativistas contrários aos regimes autoritários em todo o mundo, como o grupo hacker Anonymous, Para saber mais: veja o documentario aqui. Isto nao é necessario para o nosso Pathwork de hoje. É somente um adicional para quem tiver tempo ou curiosidade.

 Entao, no dia 20 de junho de 2013, impossibilitada de participar das manifestações no Brasil, ja que vivo na França, assisti o filme "V de Vingança" para me conectar com a energia que esta na mensagem e que vem tocando milhares e milhares de consciências no Brasil e mundo afora.



 O “Patiework” nao pretende analisar o filme do ponto de vista técnico ou estético. Tampouco politicamente. Isso você pode encontrar em sites de cinema ou de politica, com gente mais especializada no assunto.

Meu objetivo é utilizar o cinema como ferramenta para a Pratica do Caminho ou o nosso Pathwork inspirada na fala de V, personagem do filme: "Os artistas usam a mentira para revelar a verdade, enquanto os políticos usam a mentira para escondê-la."

O Guia do Pathwork explica na palestra 131 que, "é necessario permitir livremente que venha à tona o que tiver de vir, e em seguida, reconhecer que o material que surge se enquadra nesta ou naquela palestra."
Então, esta é a minha proposta. Assista o filme e dê-se liberdade para que suas emoções venham à tona com as imagens e os dialogos. A porta de entrada para o trabalho deve ser os sentimentos que estão bloqueados pelo excesso de racionalismo ou medo de sofrimento. "Sentimento é pensamento que ainda não esta consciente" (Palestra 14).



 Em seguida, analise as emoções que o filme trouxe à tona a partir da leitura das palestras que proponho ao longo do texto. Você também pode ler outras palestras que nao recomendei conforme a sua necessidade. Cada um podera mergulhar dentro de si, separar o joio do trigo internamente e queimar o joio em rituais de purificação que você escolher. Eu gosto muito do mantra Ho'oponopono para limpar os sentimentos, pensamentos e crenças que precisam partir.
Mas vamos por partes.

O filme tem varias leituras. A minha é de que, se o mundo exterior é a materialização do mundo interior, segundo os ensinamentos do Guia Pathwork, então, a minha proposta é de que analizemos todas as personagens e situações do filme como forças internas numa mesma pessoa, numa mesma psique constituindo o seu Eu Real, eu inferior, ego, a criança interior, as mascaras, o observador, etc.

V de Vingança (V for Vendetta) sao historias em quadrinhos publicadas entre 1982 e 1983 por Alan Moore e David Lloyd. O filme foi baseado nos quadrinhos, roteirizado pelos irmãos Wachowski, da trilogia Matrix.

O trabalho foi criado num momento histórico no qual a primeira ministra inglesa, Margaret Thatcher, estava implementando o sistema capitalista neoliberal. Ao mesmo tempo o "Socialismo Real" da extinta U.R.S.S. (atual Rússia), estava em total descrédito devido aos horrores do Stalinismo.

Tudo isso analisado à luz das palestras do Guia Pathwork da um caldo maravilhoso!

 Vamos la, então.

Comecemos pelas personagens:

1. Evey (Natalie Portman), uma jovem timida, tomada pelo medo e com um passado violento é, no inicio do filme, a nossa criança interior ferida e amedrontada que, ao mergulhar no abismo da ilusão do medo renasce e se torna uma mulher com as forças feminina e masculina integradas numa psique saudavel, a “Loba ou Mulher Selvagem” que vive em harmonia com a intuição (Clarissa Pinkola, no livro "Mulheres que Correm com os Lobos"). Evey, unificada com seu Eu Real concretiza o plano de V no final do filme.



2. V (Hugo Weaving), um anarquista carismático, inteligente, culto, extremamente habilidoso que não teme as forças da construção e da destruição para inspirar as pessoas a lutarem contra a tirania e opressão de seus governantes. Em alguns momentos, V encarna as forças do Eu Real (o Self, Eu Superior ou nossa verdadeira identidade abaixo das mascaras). Em outros, a força masculina (presente na psique de homens e mulheres) simbolizada pela ativação, disciplina, auto-afirmação e autonomia. Você tem duvidas de que o Eu Real utiliza as forças da destruição para o seu desenvolvimento? Pense em cada vez que você vivenciou na sua vida o caos, o aniquilamento e a eliminação de tudo aquilo a que você estava agarrada(o). “A conciência real abomina qualquer espécie de auto-engano. Ela é implacavel quando alguém tenta trapacear a vida usando a consciência artificial e as regras pré-fabricadas como escudo contra o compromisso total” (palestra 116).

3.  O Chanceler Adam Sutler (John Hurt) é um personagem que representa as forças de destruição na nossa psique, o predador natural, um misto de eu inferior (palestra 14), a destrutividade do subconsciente imaturo, o carrasco da consciência artificial (palestra 50) e a parede interior (palestra 47). O Guia explica que "A parede interior separa consciente do incosciente e é construida com a substância espiritual, ou seja, o resultado daquilo que pensamos, sentimos e somos. A parede deve ser derrubada para que possa acontecer o renascimento espiritual. Existe o perigo da pessoa ficar na metade do caminho se escondendo atras de uma verdade e ai, fica caminhando em circulos. O subconsciente vai tentar todo tipo de estrategema para impedir o nosso trabalho de penetrar mais fundo na alma e eliminar toda a estagnação."

4.  O Inspetor da Polícia Eric Finch (Stephen Rea) dos quadrinhos é muito mais perturbado, menos decidido. O filme também não mostra que sua compreensão sobre V aparece durante uma visão que teve, durante uma viagem de LSD, com a consciência expandida. Podemos interpretar o Inspetor como o nosso ego consciente que esta buscando a Verdade, tateando no escuro, em meio a névoa, tentando integrar as informações que vai descobrindo e fazendo o papel de dialogar com o subconsciente, inconsciente e as forças destrutivas (palestras 132 e 182).

5.  Dietrich, chefe de Evey na TV, representa as nossas mascaras. Para ser aceito pela sociedade, o apresentador de um programa na TV esconde que é homossexual. Dietrich diz a frase "Você usa tanto uma mascara que, acaba se esquecendo de quem você é." (palestra 14).

 Na minha opinião, o filme tem alguns pontos-chaves para o nosso estudo de hoje:

 Primeiro: A rebelião X obediência às autoridades. Como você lida com autoridades interna e externa? Ou com as restrições que sua propria psique lhe impõe ou que outras pessoas impõem a você? Na palestra 46, o Guia revela dois extremos do comportamento humano: a rebelião rigida contra as limitações, de um lado; e a obediência total por medo de ser desprezado, nao pertencer ou nao ser protegido, do outro lado. E entre os dois extremos, as varias gradações.
 A personalidade obediente gira em torno do pensamento "se eu obedecer, estarei segura." Quanto mais uma pessoa teme esse seu lado legalista, mais severa ela é consigo quando tenta quebrar as regras, ou com o outro que compreende como vândalo ou rebelde. Seria por isso que a cientista Delia Surridge (Sinéad Cusack) foi tao severa e passou a odiar as pessoas no campo de concentraçao que nao se rebelavam? :)
Seria por isso que as autoridades, em geral, tem dificuldade em compreender a furia daqueles que insiste em nomear de vândalos?
 Seria por isso que parte dos jornalistas tornaram-se porta-vozes das forças legalistas que querem manter a ordem de um sistema que ja nao se mantêm às custas da promessa de proteção em detrimento da integridade?

 Descubra qual é a sua atitude em relaçao à autoridade (interna e externa) e como ela pode ter influência na sua relaçao com seu Eu Superior, com os outros e com Deus. Você utiliza pseudo-soluções como a agressividade, a submissão ou a indiferença para escapar das limitações impostas por autoridades? Em que oportunidades você se rebela e quando obedece por medo? Que tipos de medos te levam a boicotar a voz do Eu Superior para seguir regras pré-fabricadas da sociedade?
O Guia da a dica: correntes de obstinação estao na psique da pessoa tipo transgressora; correntes do medo, na pessoa tipo legalista; e orgulho, em ambos.

 Segundo ponto-chave: A dependência das opiniões alheias (palestra 51 e 57), que nos leva a violentar a alma e a propria consciência para sermos protegidos, aceitos ou vivenciarmos o sentimento de pertencencimento a algo ou a alguém.
A libertação dessa dependência nos leva a interdependência, ou seja, a vivência da autonomia de forma saudavel que inclui o relacionamento com o outro baseado no Amor Real sem a submissão.

 Terceiro: O resgate da intuição como cura da psique ferida e portal para o renascimento espiritual; a transição da corrente do não (a separatividade, o odio), para a corrente do sim (a união, a integridade da alma, o amor). Uma vez que alguém esta unido internamente, a união com os outros é consequência.

 Na paisagem futurista de uma Inglaterra totalitária, Evey, uma garota aterrorizada por um passado violento, é resgatada de uma situação de vida e morte por um homem mascarado, conhecido apenas como “V”. V leva Evey para seu esconderijo subterrâneo numa alusão à mitologia grega do rapto de Perséfone por Hades.

Nas duas historias, esta explicita a simbologia das principais forças: a riqueza do subsolo (inconsciente) que fornece os alimentos para a nossa transformaçao e faz brotar de seu âmago as sementes (todas as possibilidades que se apresentam, o renascimento, a vida em abundância) para se expressarem no solo (o consciente).

 Da primeira vez, Evey é recebida com carinho pelo anfitrião (seu Eu Real), que lhe prepara café da manhã e apresenta obras de arte, musica e cinema para ela. Mas Evey ainda nao esta pronta para abandonar o medo e foge. Vai viver com seu chefe, com quem trabalhava na TV (sua mascara). Vive escondida, apavorada.

 Evey é o nosso adulto preso na dor da ferida da infância, no abismo da ilusão (palestra 60).
Porém, essa situação não pode durar. O medo imaginario faz com que a gente atraia situações repetitivas em nossa vida na tentativa de dissolver a imagem/crença central à qual estamos presos. Tudo o que esta petrificado deve ser trazido à tona.

As forças da destrutividade atacam novamente e matam o chefe de Evey numa situação semelhante à morte da sua mãe, reativando, assim, as dores da infância. “Aquilo a que voces viraram as costas precisa ser encarado, sentido, experimentado, entendido, aceito e assimilado para que o que é doentio e irrealista seja eliminado; o que é imaturo, amadureça; as forças saudaveis, mas reprimidas, sejam colocadas nos canais certos para trabalharem a favor de voces (palestra 100).

 Clarissa Pinkola, no livro “Mulheres que Correm com os Lobos”, afirma que “parece ser melhor ir (resgatar a intuição) quando se é chamada (ou empurrada), quando se tem alguma impressão de ser capaz de ter agilidade e elasticidade, do que hesitar, resistir, contemporizar, até que as forças psíquicas venham agarrá-la e arrastá-la, ferida e sangrando, por todo o processo de qualquer jeito. Às vezes, não se tem a opção de manter o equilíbrio; mas, quando ela existe, consome menos energia aceitá-la.”

Como Evey resistiu a esta unificação com o Eu Real no primeiro encontro, se apegando à consciência artificial, agora, ela é arrastada pelas forças psiquicas até o fundo de si mesma, onde ha escuridão, dor e ranger de dentes. A primeira coisa que acontece é ver seus cabelos serem cortados, um arquétipo poderoso das raizes, dos condicionamentos, de todas as crenças a que ela se agarrava pra se defender do medo.
As vezes, recebia algumas palavras do seu Eu Real, através das cartas de Valerie, que iam guiando-na rumo à integridade. “A liberdade e a mudança são inseparáveis. A escravidão e a rigidez são igualmente inseparáveis” (palestra Pathwork 227).
 Na galeria das sombras de si mesma, do deserto espiritual, Evey faz seu mergulho até o abismo do medo, revive as feridas da infância até se libertar delas. Vence o medo da morte - e portanto, da vida - e renasce. Quando ja nao teme mais a morte e a vida, a ilusão da prisão termina. “Você ja não tem mais medo? Então esta completamente livre”, diz seu torturador.



 A parede exterior é dissolvida. Evey pode sair da sua prisão. Mas, ainda falta o teste final para dissolver a parede interior que fez com que a prisão se materializasse: o perdão de si mesma por ter causado tanto sofrimento desnecessario apegada à uma ilusão de defesa, apegada ao medo e todas as suas negatividades. Ainda falta passar pelo portal do renascimento espiritual: a aceitação da imperfeição de si mesma, do proximo e do mundo. Somos perfeitamente imperfeitos. E somente a aceitação dessa Verdade sem distorções e auto-engano pode trazer a paz e a integridade da alma.

 (1:22:03) Evey esta com odio. Odio de V ou odio de si mesma? Esse dialogo entre os dois é uma das cenas mais belas que ja vi no cinema sobre a transição da corrente do odio para a corrente do amor.
 “Você disse que queria viver sem medo. Gostaria que houvesse um jeito mais facil, mas não havia. Todos os dias eu queria parar, mas cada vez que você se recusava a ceder, eu sabia que nao podia parar. Nao fuja dos seus sentimentos, Evey. Tem fugido a vida toda. Talvez este seja o momento mais importante da sua vida. Entregue-se a ele. Você pensou que a vida era a coisa mais importante mas, descobriu que tinha algo mais importante naquela cela. Tente sentir o que era.”
 V a conduz pela grande onda das emoções que Evey precisa deixar para tras, juntamente com as feridas da infância, no momento mais emocionante do filme, na minha opinião. Evey revive a integridade da alma que ja tinha encontrado na cela anteriormente. Integridade que esta acima da vida e da morte. “Se eu quiser falar com Deus tenho que aceitar a dor, tenho que comer o pão que o diabo amassou, tenho que virar um cão, tenho que lamber o chão dos palácios, dos castelos suntuosos do meu sonho, tenho que me ver tristonho, tenho que me achar medonho, e apesar de um mal tamanho, alegrar meu coração”, canta o poeta Gilberto Gil.

 Evey consegue passar a onda do odio e descobre a integridade da alma. Os dois sobem até o teto do esconderijo (o consciente) e ela recebe o batismo da agua da chuva, a purificação, a unidade, a integração de todas as partes da sua personalidade.
 Se para V o batismo aconteceu com fogo (simbolo da energia masculina), para Evey, o batismo se deu através da agua (simbolo do feminino). Da integração de ambos nasce a força criativa que preenche Evey de coragem para deixar os subterrâneos. “Deus esta na chuva”, ela diz. E eu acrescentaria, “Deus esta na cabeleira da arvores que dançam com o vento.”



Não basta descer até as profundezas de si mesma. É preciso retornar para o cotidiano, o momento presente, e viver melhor cumprindo com o que o psicanalista Carl Jung chamou de "obrigação moral” de sobreviver e de exprimir o que foi aprendido na descida ou na subida até o Self selvagem (V e os subterrâneos). “Isso significa viver aquilo que percebemos. Nossa função é a de mostrar que recebemos esse sopro - demonstrá-lo, divulgá-lo, cantá-lo, vivenciar no mundo aqui em cima o que recebemos através de percepções repentinas. Dispor da semente significa ter o acesso à vida. Conhecer os ciclos da semente significa dançar com a vida, dançar com a morte, dançar de volta à vida.” (Clarissa Pinkola)

Uma historia judia nos conta que numa noite, quatro rabinos receberam a visita de um anjo que os acordou e os levou para a Sétima Abóbada do Sétimo Céu. Ali eles contemplaram a sagrada Roda de Ezequiel. Em algum ponto da descida do Pardes, Paraíso, para a Terra, um rabino,depois de ver tanto esplendor, enlouqueceu e passou a perambular espumando de raiva até o final dos seus dias. O segundo rabino teve uma atitude extremamente cínica. "Ah, eu só sonhei com a Roda de Ezequiel, só isso. Nada aconteceu de verdade!' O terceiro rabino falava incessantemente no que havia visto, demonstrando sua total obsessão. Ele pregava e não parava de falar no projeto da Roda e no que tudo aquilo significava... e dessa forma ele se perdeu e traiu sua fé. O quarto rabino, que era poeta, pegou um papel e uma flauta, sentou-se junto à janela e começou a compor uma canção atrás da outra elogiando a pomba do anoitecer, sua filha no berço e todas as estrelas do céu. E daí em diante ele passou a viver melhor.

As pessoas que estão indo às ruas inspiradas por este renascimento espiritual e pela obrigação moral de viver o que ja percebem podem compreender o universalismo do personagem V. Nao se trata mais de termos um heroi ou lider que va nos salvar. O personagem “defende a necessidade (e não é somente um detalhe) da ação das massas nas transformações. V pretende explodir prédios, mas também incitar o povo a se rebelar contra o governo tirano (interno e externo). Segundo ele, explodir um prédio como o Parlamento é algo simbólico, mas “um símbolo não vale nada se não tiver o povo na rua”. Mesmo que sua principal tática seja essa, por diversas vezes V mostra que a ação isolada é insuficiente. Assim, o atentado proposto por V se diferencia, por exemplo, dos atentados do 11 de setembro de 2001 que, mesmo acertando um importante símbolo do imperialismo não levou a uma mobilização dos trabalhadores e deu mais fôlego a Bush e Blair.” (V de Vingança: Uma Bomba no Sistema)

 O personalismo e o individualismo se dissolve por completo na multiplicação das máscaras pela multidão e pela fala de V: "você pode matar um homem, mas não um ideal". Porém, se o individualismo se dissolve na multiplicação das mascaras, torna-se o seu oposto, a individualização, logo em seguida, quando as pessoas começam a retirar as mascaras.

O individualismo é uma corrente egoista que nos leva à separatividade e a nos agarrarmos a algo ou alguém quando seria melhor nos afastarmos. A individualidade é a corrente que fortalece a autorresponsabilidade e a interdependência e nos leva à vidas criativas, a relacionamentos significativos e profundos, à libertação das forças predatorias.

 Eis aqui a mensagem poderosa do filme que se torna uma realidade nas ruas do mundo atualmente: SOMOS TODOS UM MAS, SOMOS UNICOS NA NOSSA INDIVIDUALIDADE. "Ele era Edmont Dantes, era meu pai, minha mãe, meu irmão, meu amigo. Ele era eu, era você, era todos nós”, diz Evey no final do filme enquanto as pessoas retiram as mascaras durante os fogos de artificio, uma representaçao da energia do amor que implode a torre com o relogio (representação do tempo) e o prédio do parlamento, palavra que tem raiz em "parlar" (representação do espaço e do pensamento compulsivo, o falatorio da mente).

Estamos em 2013, as pessoas estão nas ruas, cada um com seus motivos, e algumas delas pra afirmar que não aceitam mais governos totalitarios em troca de proteção, num sinal explicito de que preferem fazer parte das decisões e arcar com as consequências disso. “Quando uma entidade (individual ou o planeta) está pronta para uma alternância, quando o seu desenvolvimento se aproxima do ponto de mudança, existem sempre novas e fortes energias liberadas no planeta a partir de esferas superiores. Isso se manifesta no plano interior como um poderoso movimento...” (palestra Pathwork 225)

 “O planeta Terra chegou a uma etapa do desenvolvimento em que a velha estrutura já não pode ser mantida. O planeta não pode suportar as tensões e restrições da velha e limitada consciência. É preciso adquirir uma nova visão na qual tudo é um, na qual o eu e os outros são percebidos como um só. Precisam procurar essa nova visão por baixo da visão limitada à qual a consciência imediata está tão acostumada. ...Se houver disposição em renunciar à atitude velha, obsoleta, e adotar uma atitude nova, mais apropriada, a crise dolorosa e a destruição são desnecessárias. A mudança ocorre da maneira mais natural, harmoniosa e bonita... Esta mudança acontecerá, 1º, pela compreensão de que suas velhas respostas são um reflexo condicionado criado para servir a um modo menor de funcionamento na vida; 2º, pelo questionamento desse reflexo e do significado por trás dele; e finalmente, mas igualmente importante (e este é o tema básico da palestra desta noite), pela escolha do amor, em lugar da separatividade, como sua forma de estar no mundo” (palestra Pathwork 202).

"... se uma única pessoa se desenvolve, se realmente faz tudo que está a seu alcance, ela não está apenas ajudando a si mesma, mas contribui com o mais valioso poder cósmico para um grande reservatório que acabará tendo um efeito decisivo e se espalhará consideravelmente, mesmo que a própria pessoa em questão não chegue nem a observar uma parte desse efeito. Talvez ela veja alguma coisa em seu ambiente imediato: como, por causa de repente, também seus semelhantes começam a mudar um pouquinho. Mas a pessoa não vai saber, enquanto estiver na terra, como é imenso o efeito do menor dos esforços nessa direção. Nenhum esforço desses é em vão, meus amigos! É como se vocês jogassem uma pedra num lago de águas calmas. Formam-se anéis e mais anéis, que vão tão longe que os olhos não podem acompanhar – mas eles estão lá. Se uma pessoa supera uma única fraqueza, isso constitui a melhor ajuda nesse grande plano de salvação" (palestra Pathwork  021).




 "Nao é carnaval, é uma causa social." 




 No dia 22 de junho, participei de uma manifestação, em Lyon, na França, para apoiar as manifestações brasileiras e o Movimento do Passe Livre. Manifestantes brasileiros descontentes com o rotulo brasileiro de "samba-futebol-mulher pelada" aqui na Europa, receberam um grupo de percussão que foram dar sua contribuiçao para a manifestação aos brados de "nao é carnaval, é uma causa social." Houve um certo impasse, ninguém sabia muito bem o que fazer. O grupo de percussao tocou durante uns 10 minutos e a manif começou realmente a ficar com cara de carnaval. Manifestantes bateram em retirada para o outro lado da praça com a palavra de ordem "Nao é carnaval, é uma causa social." Percussionistas compreenderam a mensagem e retornaram para a festa do vinho, onde estavam trabalhando. Penso que a rejeição dos manifestantes ao sambão nao é um sinal de intolerância e rigidez mas, estava relacionado com uma tentativa de libertação do rotulo de que "o Brasil nao é um pais sério." Estamos cansados de não sermos levados a sério. O pais do carnaval tem uma mensagem politica clara e quer ser ouvido para além da percussão. Video:



 Entretanto, como diz o personagem V, "uma revolução que não tem dança não é uma revolução que valha à pena." Eu sai da manifestação com uma ponta de vazio causada pela energia da separatividade e da exclusão. Ali, naquela manifestaçao, ficou claro que são poucas as pessoas que querem transcender os muros de si mesma e do mundo para o dialogo interno e externo. Avancemos na Paz!



 Enfim, somos muitos, somos diferentes e cada um da o que tem...

Leituras indicadas:
 Palestras Pathwork, aqui.
Mulheres que Correm com os Lobos, aqui.
Ho’oponopono, aqui.

Audio/reflexão "Pensador Compulsivo" sugerida (imperdivel) aqui.


Pra nadar em aguas mais profundas sobre o tema:
"Nao Temas o Mal", Eva Pierrakos, Fundação Pathwork.

* Patrícia Nascimento Delorme, 41 anos, aprendendo a dar espaço e a acolher todos os meus eus (e os eus dos outros) e em plena transição da corrente do não para a corrente do sim.

quinta-feira, maio 23, 2013

O Livre Arbitrio e o Advogado do Diabo


O Patiework de hoje é sobre o Livre Arbitrio e a Queda dos espiritos criados por Deus (palestras Pathwork 18, 19, 20, 21 e 22).  O filmaço que ilustra nossa reflexao sobre o tema é o imbativel “Advogado do Diabo”. Para o pessoal que nao esta familiarizado com os conceitos do Pathwork, escrevi um pequeno glossario no final do texto explicando o que são eu inferior, eu idealizado, Eu Real, Self (ou eu superior, consciência cristica), imagens.


*****SPOILER******* 

Sinopse: Kevin Lomax, advogado de uma pequena cidade da Flórida, que nunca perdeu um caso, é contratado por John Milton, dono da maior firma de advocacia de Nova Iorque. Kevin passa a receber um alto salário e diversas mordomias. No início, a realizaçao so sonho, mas logo Mary Ann, esposa de Kevin, entra num ciclo autodestrutivo e passa a ter visões demoníacas. No entanto, Kevin, empenhado em defender as causas de seus clientes, entre eles, um mago das trevas e um empresario acusado de triplo homicídio, dá pouca atenção à mulher. Enquanto isso, seu patrão vai envolvendo o casal numa teia de sugestões e tramas que os distanciam cada vez mais um do outro – e deles proprios.

No inicio do filme, Kevin sabe que seu cliente, um professor de matematica que abusa sexualmente de uma adolescente, é culpado mas, ainda assim, o defende e ganha a causa. Quantos de nos ja nao esteve exatamente neste ponto? Sabemos conscientemente que estamos escolhendo algo que é contra as leis divinas e ainda assim, insistimos em seguir adiante movidos pela obstinaçao, orgulho ou medo, as tres emoçoes basicas que nos levam a todas as outras negatividades (palestra nr 30)?

O resultado nao é castigo ou puniçao. É muito mais simples que isso. É apenas a movimentaçao da lei de açao e reaçao que colocamos em funcionamento na nossa vida. O subproduto da açao e reaçao começa com um pequeno cansaço do mundo, uma ponta de tristeza, as vezes, uma raiva que nao se sabe exatamente do quê e vai aumentando até se tornar a completa alienaçao de nos mesmos (palestra nr. 04).

(0:18:00) O processo de autosabotagem e alienaçao de Mary Ann tem inicio. As possibilidades sao infinitas pra alguém com dinheiro em Nova Iorque. Deve existir milhoes de coisas pra se fazer, ver, aprender, experimentar... Mas ela passa o dia em casa vendo tv e comendo porcarias. A porta esta aberta para as emoçoes negativas: insegurança, solidao... O marido chega e diz que ganhou a causa e libertou um cara que ambos sabem que é culpado. A vaidade, subproduto do orgulho, esta no comando da vida do casal.

(0:23:00) Dialogo esclarecedor do jovem advogado com seu patrao milionario que eu analisaria  como a representaçao do eu inferior do proprio Kevin em alguns momentos e, em outros, o seu eu idealizado: a imagem de vencedor que ele criou de si mesmo que dita regras e metas exigentes a serem alcançadas para a sua realizaçao em detrimento do Eu Real (palestras 14 e 83).

“- Como é prender num dia e soltar no outro?
- Leva-se um tempo para acostumar.
- E paga-se melhor.
- Muito melhor.
- O professor de matematica...
- Digamos que eu comecei o caso com a consciencia limpa.”

(0:33:50) Aqui, Mary Ann inicia o circulo vicioso desdendente. Ela da mais importância à opiniao da vizinha (seu proprio eu superficial) do que a si mesma (seu Eu Real, seu Self). Por que mesmo tendo tanto dinheiro ela nao contratou um super decorador e fez exatamente o que queria no seu apartamento com ajuda de um especialista? Porque quando perdemos a conexao com nosso Eu Real, simplesmente nao enxergamos mais as infinitas possibilidades (palestras 94 e 95) interior e exteriomente. Nos nos tornamos androides programados para nos sabotarmos e nos destruirmos.

Mary Ann diz : “é a primeira vez que nao tenho um emprego. Ou dois. E eu fico andando de um lado para o outro na minha casa. Perdida.” Por que ela nao consegue aproveitar a abundância que o salario do marido proporciona? Culpa originada da consciência de que o dinheiro é fruto de um trabalho que inocenta homens culpados perante a lei dos homens e, em alguns casos, também perante as leis divinas? “Pois a culpa humana, a culpa destrutiva, é uma carga suficientemente pesada em si mesma para gerar um excesso de resistência à descoberta pessoal” (palestra nr. 75). 

Porém, algumas vezes, nos também nao conseguimos desfrutar a abundancia, mesmo quando nosso salario é fruto de trabalho honesto. Por que? Podem ser crenças erroneas sobre dinheiro que nos fazem sentir nao-merecedores da prosperidade. Ou ainda pior: o medo do sucesso sabotando o sucesso na sua raiz. “Em termos gerais, o medo do sucesso indicaria o medo de não ser adequado ao sucesso. Todos vocês sabem que a criança em vocês quer receber as coisas numa bandeja de prata, sem a necessária responsabilidade, trabalho, decisão e custo. Ao amadurecerem, vocês aceitam todos esses fatores, mas se a criança interior não aceitar, o resultado dessa não aceitação da maturidade pode ser o medo do sucesso. Portanto, cria-se mais um medo. É o medo de perder qualquer possível sucesso que se venha a ter. O mais profundo conhecimento de sua alma transmite a vocês que só podem manter, por direito, o que ganharam por direito, através de uma atitude madura. Se essa atitude madura está ausente sob qualquer aspecto, lá no fundo a pessoa sabe que o sucesso será passageiro. Assim, ela procura evitar a impostura e a exposição, o fracasso e o desgosto, sabotando o processo logo no início, por ter medo dele. Assim, os fatores seriam principalmente: 
(1) sentimento de inadequação. 
(2) falta de autoresponsabilidade embora sutilmente expressa no seu interior (não necessariamente exterior) (3) culpa, a sensação de que “na verdade eu não mereço”. Como a pessoa não está disposta a assumir a responsabilidade madura, sente-se naturalmente culpada por desejar, mesmo assim, aquele objetivo. Se uma pessoa aceitar a plena responsabilidade adulta por si mesma, estiver disposta a pagar o preço de tudo, e assim for capaz de tomar uma decisão madura, não haverá essa culpa.” (Palestra nr. 75)

A vizinha, casada também com um advogado, diz a Mary Ann: “É a santissima trindade: Você pode trabalhar, pode brincar ou reproduzir.”
Aqui, Mary Ann tem tres opçoes dadas pelo seu eu superficial, representado pela sua vizinha. Todas podem ser saudaveis ou nao. Depende das motivaçoes que estao por tras da açao  (palestra nr. 56). Se a motivaçao para trabalhar, brincar ou reproduzir for se esconder dos conflitos interiores, DEFINITIVAMENTE nao é saudavel, como pude verificar no proprio couro! Kkkkkkkkkkkkk   Se Mary Ann tivesse em conexao com seu Eu Real, ela teria uma infinidade de opçoes, como também ja pude verificar no couro. J

(0:40:34) O apartamento esta uma bagunça. Portas encostadas pelo corredor, moveis espalhados sem nenhuma ordem. O reflexo do mundo interior de Mary Ann. A parede da sala é muito simbolica. Ela representa as emoçoes e o mundo interior de Mary Ann. Durante o filme ela muda de cor varias vezes: branca, varios tons de verde, amarela e, por fim, cinza. Na palestra nr. 47, o Guia alerta sobre a construçao da parede interior com a repressao das emoçoes, pensamentos, conclusões e motivações. Essa parede é uma substância real mais dificil de destruir do que uma parede no mundo fisico. O mundo interior rejeitado e expulso à força para o inconsciente, retorna com força total através de confusão, desordem interna e alienaçao, como sinaliza a baderna do apartamento do casal.

Vamos analisar agora, as cores da parede da sala. O que cada uma delas quer dizer? No inicio, o branco, a pureza, o inicio, um mundo de possibilidades para explorar. Depois, o verde, cor que significa esperança, liberdade, saúde e vitalidade. Em seguida, o amarelo, que simboliza luz, calor, descontração, otimismo e alegria. Mas também, a riqueza, o dinheiro e o ouro. Está associada à nobreza, à inteligência e ao luxo. Em excesso, pode provocar distração e ansiedade. A cor amarela neste momento da vida de Mary Ann é um grito do seu Self por vigilância, alerta e atenção. Finalmente, a parede é pintada de cinza, cor que pode gerar sentimentos negativos relacionados às imagens de densas e escuras nuvens cinzas, o nevoeiro e a fumaça. O cinza é a cor da evasão que se relaciona com separar-se de tudo, permanecer à margem e fugir de compromissos impostos. A cor cinza retrata a alienaçao de Mary Ann, seu mundo interior e sua crise. Esta insegurança para terminar a decoraçao do apartamento toma conta de toda a personalidade da moça, que no inicio do filme demostrava ser uma mulher ativa e de personalidade segura.

(0:44:30) O eu inferior ataca Mary Ann. O patrao de Kevin, John Milton, sugere que ela mude o penteado. ATENCAO MULHERES! O ataque das trevas começa pelo cabelo!!!!!!!!!!!! J

Em 2002, eu estava lidando com as forças do mal na sua versao moderna: tentando ajudar uma pessoa a se livrar da dependência das drogas. Neste periodo, recebi um convite para ser cobaia de uma escova definitiva no cabelo. Assim como Mary Ann, aceitei sem refletir se gostaria mesmo de ter meu cabelo alisado. O resultado foi catastrofico na minha vida. Nao me reconhecia no espelho. Eu nao tinha nada a ver com aquela mulher "alisada". Descobri que minha alma era encaracolada. Aquele modelo chanel espetado nao traduzia a minha alma, o meu ser, a minha personalidade. 
 


Meu mundo emocional desabou. Eu chorava todos os dias quando me olhava no espelho. E depois chorava porque estava chorando. Eu dizia a mim mesma: “Pare de chorar. Vc é uma adulta e uma mulher espiritualizada. Ficar chorando por causa de cabelo. Onde ja se viu? ” E depois, recomeçava a berrar porque nao podia suportar a dor de reprimir a frustraçao. Hoje, eu sei que nao derramava litros e litros de agua salgada pelo cabelo. Eu chorava mesmo era pela total desconexao entre o que eu sentia, falava e fazia, traduzido ali , naquele momento, pela imagem que nao reconhecia no espelho do banheiro. Chorava por nao suportar a criaçao do meu eu superficial. Chorava pela impotência diante do presente totalmente fora do meu controle. E diante da desconexao total com meu Eu Real, nao poderia atrair nada de bom, nao é mesmo? E a aspiral descendente até o inferno interior teve inicio. Reencontrei um amigo que tinha saido do mundo das drogas atraves de trabalhos espirituais em um centro de magia que sua irma, uma grande amiga minha, trabalhava. Fui parar neste lugar sem nenhuma luz pra tentar ajudar essa pessoa a parar de usar drogas. Desde o primeiro instante em que pisei o pé neste lugar, senti meu Self, Mentor, Espirito Santo avisando em coro: “saia dai agora!!” 


Entretanto, uma mistura de obstinaçao, medo da impotência diante daquela situação caotica, ignorância e total falta de aceitação do presente me fez ficar, comprar galinhas, muitos litros de mel, milhos e outras iguarias da receita para os “trabalhos” , além de gastar 2 mil reais com as taxas da macumbeira que subiam vertiginosamente toda semana. 
Sete sessoes depois, paguei o que nao devia com medo da chantagem da galera das trevas e voltei para o marco zero. Mas, muito pior. Estava tao desequilibrada pelas correntes negativas da obstinaçao que passei anos tentando me libertar do circulo vicioso que eu mesma criei por nao ouvir meu Eu Real. Hoje, eu sei que, se tivesse tido um pouquinho mais de confiança em Deus, nao teria entrado naquela fria. A tal macumbeira e seu séquito foram parar na prisao por formaçao de quadrilha e por extorquirem uma empresaria de Campo Grande. E eu, aprendi no couro, às custas de muita agua salgada a confiar em Deus, que se expressa em mim através da intuição.

(0:59:35) Mary Ann diz ao marido: “Vc compra uns terninhos novos e resolve tudo. Eu tenho esta merda deste lugar pra preencher. Eu sei que ter grana deveria ser muito legal , mas nao é. Tudo isso é como um grande teste. ”
É isso mesmo. TUDO é um grande teste. Ter dinheiro (como nao ter dinheiro) é apenas mais um dos testes do universo pra trazer à tona as nossas distorçoes e correntes negativas pra curar.  Vc é o que vc vibra. Se vibrar correntes positivas, o dinheiro sera uma bençao e você conseguira vivenciar a abundancia com equilibrio e multiplicar o bem-estar a sua volta. Se você vibrar correntes negativas, o dinheiro podera ser uma prova dificil porque vai trazer à tona crenças erroneas, falta de saude interior, capacidades destrutivas e você tera que lidar com elas, acolhe-las e transmuta-las. Quantas pessoas no universo nao desejam ter dinheiro e viver em Nova Iorque? Pra algumas, é o começo do fim. E se o dinheiro for “sujo”, entao, como é o caso do advogado do filme, o fim vem rapido, muito rapido. Porque a lei de açao e reaçao, nao brinca em serviço com quem ja tem alguma consciência, como é o caso da Mary Ann que, ao ser internada em uma clinica diz que nao consegue mais se olhar no espelho porque sabia que o dinheiro que o marido ganha é fruto de defesa de pessoas culpadas perante a lei.

Quando se esta operando a partir do eu superficial, buscamos soluçoes superficiais para nos preencher. O casal decide ter um filho. Mas com tantas distorçoes e desequilibrios, Mary Ann é prato cheio para sua propria sombra que deixa a porta aberta para espiritos ignorantes, o que o Guia chama de “especialistas” na palestra “Especialistas, Demônios e a Essência do mal, nr 15” .
O resultado é uma “falência inespecifica de ovarios” que deixa a moça totalmente descontrolada e aliena de vez. Um pouco mais de espiritualidade e Mary Ann teria conseguido buscar ajuda ou abrir a porta para que seu Self, Guia, Mentor ou Anjo lhe trouxesse ajuda atraves da Lei da Sincronicidade. A culpa de aceitar dinheiro sujo a levou a entrar num ciclo vicioso de culpa justificada e injustificada (palestra nr. 49) e apertou ainda mais o novelo.  (1:42:00) “Nos sabiamos que eles eram culpados mas vc continuou ganhando. Eu nao consigo mais me olhar no espelho. Eu so vejo um monstro.”

(1:30:30) John Milton discursa sobre o universo do eu inferior. Um tratado!  “150 kg de pura cobiça em açao. Vc excita apetites ao ponto deles separarem atomos. Construimos egos do tamanho de catedrais. Compra-se futuros. Vende-se futuros. Todos prontos para violar o ex planeta de Deus e lavar as maos apos usar seus teclados virtuais! Depois você grita por socorro mas vc esta sozinho. Talvez Deus tenha nos desapontado, talvez tenha cansado de brincar de dados!”
Na palestra nr. 21, o Guia discorre sobre o processo da Queda, em que nos, seres divinos, utilizamos nosso livre arbitrio e iniciamos um processo lento de transmutar todas as qualidades divinas no seu oposto. Assim, o amor se tornou dependência, submissao; o poder e auto-afirmaçao, agressividade; a serenidade, indiferença; a força de vontade, obstinação; a capacidade de reconhecer limites, dependência; a capacidade de cuidar de si, egoismo; o pacifismo, covardia; o talento para atrair abundância, avareza; a valorizaçao de si, o orgulho; a devoção, fanatismo, a contemplaçao, a preguiça... a lista é interminavel!
Em 1:36:20 do filme , John Milton diz “siga seus instintos,estou com voce de qualquer maneira, talvez seja hora de perder. Vc acha que nunca perdi?" Esta é a deixa para Kevin utilizar o livre arbitrio e parar com a loucura da vaidade que o esta consumindo. Mas ele segue adiante totalmente engolido pela obstinaçao.  E o eu idealizado, faceiro, achando que o tem sob suas redeas!

(1:56:15) Kevin esta sozinho nas ruas de Nova Iorque. Este é o momento da solidao do encontro consigo mesmo, o inicio do fim da alienação. A dor de perceber toda a loucura das memorias do ego, as criaçoes imperfeitas a que nos estivemos dedicando a vida e a ida ao encontro com proprio eu inferior.

(1:56:45) John Milton:  “Eu tenho observado, venho esperando, antecipando. Mas nao faço nada acontecer. Nao é assim que funciona. Livre arbitrio. Eu apenas armei o cenario. Vc puxa seus proprios cordoes.”
A palestra 18 do Pathwork é essecialmente sobre o Livre Arbitrio, mas lida em conjunto com as palestras 19, 20, 21 e 22, torna-se muito elucidativa e vc vai ter uma nova visao sobre o livre arbitrio, Jesus e o mal. Eu chego a afirmar que, antes da leitura destas palestras uma parte de mim acreditava realmente que “Deus criou tudo isso, ele nao fez mais que obrigaçao de enviar seu filho Jesus pra consertar o que ele concebeu.” J J J Puro eu inferior, camadas e camadas de ignorância expressando rebeldia e orgulho. Sinto muito, sinto muito, sinto muito. Sou grata ao Guia Pathwork que me trouxe esta compreensao da Queda dos Espiritos e que me fez encontrar a humildade a a gratidão sincera a Jesus por ter recuperado  o livre arbitrio para os espiritos que participaram da Queda. “Raça incrédula e perversa, até quando estarei convosco? Até quando hei de aturar-vos?” Mateus 17:17

Este dialogo entre os personagens de Pacino e Keanu Reeves é excelente! O encontro com a propria sombra, o eu inferior, o eu idealizado... enfim, “tenho muitos nomes” (como diz o patrao de Kevin) mas, em resumo, é aquela nossa parte cheia de negatividade que se recusa a crescer, se sintonizar com a LUZ e SER a Perfeiçao.
“- Quem é voce?
- Quem sou eu?? E quem é você? Jamais perdeu uma causa? Por que? Porque é tremendamente bom? Mas, por que?
- Porque você é meu pai? 
- Eu sou mais do que isso!
- O que é vc?
- Eu tenho muitos nomes.
- Satã?
- Me chame de pai. (Adoro o sarcasmo desta frase! Kkkkkkkkkkkkkk)
...
- Esta me culpando por Mary Ann? Ela so queria amor. Vc queria substitui-la no momento que chegou aqui. Pare de se iludir. Eu disse no metro “Talvez é  a sua vez de perder”.
- Eu nao perco. Eu venço. Eu sou um advogado . Esta é a minha função. (momento crucial em que Kevin esta nu com sua vaidade.)

(Os eus inferior e idealizado vibram J  ):
- Eu encerro o caso. A vaidade é, definitivamente, meu pecado predileto. Narcisismo, o narcotico natural. Tao basico! Nao que vc nao se importasse com sua esposa. Vc estava envolvido com outra pessoa: vc mesmo!  Afinal por que esta carregando todos estes tijolos? Por Deus? Vou lhe dizer algo sobre Deus. Deus gosta de observar. Da ao homem instintos, mas estabelece regras contrarias. é esta a piada: Olhe, mas nao toque. Toque , mas nao prove. Prove, nao engula. Enquanto vc tenta entender o Todo Poderoso , ele fica la em cima rindo de vc. Ele é o senhorio relapso. Eu tenho o meu nariz aqui na terra desde que a coisa toda  começou. Eu alimentei cada a sensaçao que o homem é inspirado a sentir. Eu me importei com o que ele quer. Eu nunca o julguei porque eu nunca o rejeitei apesar de todas as suas imperfeiçoes. Eu sou fa do homem. O século XX é totalmente meu. Eu estou no auge. é a minha vez de triunfar. é a sua vez."

(Alguém tem alguma duvida de que o século XX realmente foi o século do eu idealizado? :)))  )

- Esta tentando me convencer. Deve precisar muito de mim.
(Sim, é isso! As memorias do ego, os eus inferior e idealizado precisam desesperadamente da gente pra continuar exisitindo. Essas vozes existem dentro da gente. Procure e encontre dentro de você esta voz que diz que Deus esta distante, jogando dados e brincando de marionete com a gente. Quando encontrar esta voz, tera dado um passo importante para integrar esta parte sua que se debate contra a sua propria Luz e quer continuar a criar negatividade e imperfeiçoes!)

“- O que quer de mim?
- Quero que seja você mesmo. A culpa é como um saco de tijolos. Tudo o que tem a fazer é deixa-lo para tras."

Aqui temos, de novo, o problema da motivaçao. O Self, o eu superior, o Espirito Santo sabe que devemos nos libertar da culpa que paralisa e que devemos buscar a perfeiçao aceitando a imperfeiçao pra nao cairmos nas armadilhas do perfeccionismo, que também paralisa. A perfeiçao vai ser atingida um dia como subproduto da libertaçao das camadas da imperfeiçao e da transformaçao das negatividades em seus opostos divinos. Entao, submissao sera amor real. Agressividade sera poder sem distorçoes e Indiferença sera serenidade e sabedoria. O eu inferior também quer a perfeiçao, mas a motivaçao é diferente. Ele quer a perfeiçao agora pra receber admiraçao e aprovaçao. Nao quer aceitar que é imperfeito e, por isso, cria o eu idealizado com todas as qualidades que ainda nao possuimos porque ainda nao nos aceitamos exatamente como somos (palestra 83).

(2:11:50) Chegamos ao ápice do filme sobre a reflexão dentro do tema do livre arbitrio. O eu inferior e o eu idealizado convidam Kevin à materializar suas criaçoes imperfeitas. E prometem tudo. O prazer da primeira cheirada de cocaina ou de entrar no quarto de uma garota pela primeira vez. 

Na parede do escritorio do advogado, uma obra que remete à escultura “A Porta do Inferno”, dos escultores franceses Rodin e Camille Claudel, inspirada por sua vez no “Inferno” do livro "Divina Comédia", de Dante Alighieri. Sugestivo... A primeira cheirada de cocaina é puro prazer, mas torna-se facilmente a porta do inferno, assim como tantos outras criaçoes imperfeitas do eu superficial...

Kevin diz nao ao convite e se mata. Essa morte é simbolica. O suicidio dele é um tiro nos eus inferiores e idealizado. Imediatamente, as criaçoes imperfeitas sao consumidas pelo fogo purificador da consciência cristica. O eu inferior assume a face do proprio Kevin e cria asas num simbolo do seu Self luminoso, que assume o comando de sua vida.

Ele se reconecta com seu Eu Real e faz “a coisa certa”. Ouve sua consciência, abre mao da vaidade e renuncia à exigência descabida de seu eu idealizado de “nunca perder uma causa”conforme a lei divina ensinada por Jesus “Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me; Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á. Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?” (Mateus 16:24-26)

O jovem advogado abdica da posiçao de defensor do professor de matematica acusado de abusar sexualmente de uma adolescente. O erro primal onde as criaçoes imperfeitas tiveram origem é corrigido. Kevin é procurado por um jornalista que quer uma entrevista exclusiva com ele. Ele concorda e quando vai embora, o jornalista é - TCHARAMMMMMM! - seu eu inferior novamente, que repete a frase chave do filme: “Vaidade, definitivamente, meu pecado favorito.”

ADOROOOOOOOOO! PUTA SACADA! Nao importa o caminho que você decida seguir em sua vida, se vai casar ou nao, se vai ter filhos ou nao, se vai ter dinheiro ou nao, qual profissao ira exercer ou nao. Nao importa. Suas imagens irao vir à tona para que você as dissolva e se liberte das camadas de crenças errôneas e criaçoes imperfeitas.

Sera que Kevin vai conseguir se manter fiel ao Eu Real diante da sua imagem principal – a vaidade- que vai continuar aparecendo sob diferentes formas e desafios em sua vida até que ele tenha plena consciência de sua existência  e a dissolva? (palestras 38 a 41 sobre as Imagens)

"As tentaçoes do mal sao muito sutis. Cada verdade pode ser posta a serviço de uma distorçao. Eis porque é necessaria tanta vigilância. é também por isso que fazer a coisa certa nunca é por si mesmo uma garantia de que se é verdadeiro e se esta em harmonia com a lei universal. Nao existe formula que possa protege-lo do mal; somente a sinceridade de coraçao pode faze-lo. (Palestra 198) 

Como cantava Renato Russo, na fantastica letra de Será (eleita o melô do eu idealizado kkkkkkkkkkkk): “Nos perderemos entre monstros da nossa própria criação? Serão noites inteiras. Talvez por medo da escuridão. Ficaremos acordados imaginando alguma solução pra que esse nosso egoísmo (vaidade, orgulho, obstinaçao, medo, preencha com o seu adjetivo predileto) não destrua nosso coração. Será só imaginação? Será que nada vai acontecer? Será que é tudo isso em vão? Será que vamos conseguir vencer?”

Esta meditaçao proposta pelo Guia na palestra 182 tem sido minha ferramenta de trabalho com o ego, o eu idealizado e inferior ha anos e vem funcionando muito bem. Recomendo: Pregue no espelho e leia diariamente. "EU SOU mais forte que a minha destrutividade e nao sou tolhido por ela. Eu determino que a minha vida é a melhor e mais plena possivel e eu eu posso, e por isso, eu supero os bloqueios que existem em mim e que me fazem querer permanecer infeliz (ou destrutivo, ou estagnado, ou ...)  Essa determinaçao traz para mim os poderes do meu Self luminoso que me fazem ser capaz de expermimentar bem-aventurança porque abandono o prazer dubio de ser negativo que agora reconheço plenamente."

Pra dar uma forcinha na dissolviçao das criaçoes imperfeitas do eu idealizado, vai aqui uma afirmaçao do “Livro de Ouro de Saint Germain” que tem sido vital neste momento da minha vida: 
“Vai-te impotente criaçao humana! Meu mundo esta repleto somente da Perfeiçao de minha Poderosa Presença EU SOU. Retiro de ti , aparência insensata, todo o poder de prejudicar ou perturbar. Eu ando na Luz da Divina Presença EU SOU, onde nao ha sombra e eu estou livre, para sempre livre. Eu nao aceito condiçoes de quem quer que seja nem de coisa alguma que me cerque a nao ser de Deus, do Bem e do meu EU SOU, sempre comandado por Deus.”

Para baixar as palestras do Pathwork, clique AQUI.

Glossario de termos:
1. Eu Real: nosso EU Superior (consciência cristica), o âmago da nossa natureza, a centelha divina,  considerado como nossa verdadeira identidade. Ja somos o Eu Real, porém, coberto de camadas de imperfeiçoes que fomos criando desde o processo denominado A Queda dos espiritos. Nos o chamamos de Real, em contraste com o eu superficial que vive na ilusao.
2. Eu inferior: Aquela nossa camada oculta do egocentrismo onde estao as nossas negatividades, todos os aspectos divinos que foram transformados no seu oposto com o processo da Queda.
3. Mascara ou eu idealizado: nossa construçao (consciente ou inconsciente) segundo a maneira pela qual queremos que os outros nos vejam e pela qual gostariamos de ser identificado. Como queremos impressionar as pessoas, receber admiraçao e aceitaçao, escondemos nossa negatividade (eu inferior) por detras dessa mascara. As qualidades e virtudes nao sao espontaneas, como no caso do Eu Real e, portanto, leva à alienaçao de si mesmo.
4. Eu superficial: Quando nao agimos a partir da nossa essência, ficamos na periferia de nos mesmos.
5. Imagens: Sao falsas conclusoes tirada em funçao de uma percepçao deturpada da realidade que ficam arraigadas na psique da personalidade e que passam a controlar seu comportamento. Por exemplo, a pessoa que tem a imagem cristalizada de que se for rico ou que se for uma pessoa de sucesso profissional recebera admiraçao, aceitaçao, aprovaçao, atençao (substitutos do AMOR REAL) fara tudo para ser rico ou ter sucesso profissional, até mesmo ser o advogado do diabo. :)))
6. Circulo Vicioso: é uma atitude negativa que nasce de uma imagem (uma crença erronea) e que nos separa da realidade. à medida que o circulo vicioso tem continuidade, nos afastamos cada vez mais do ato de corrigir o erro original.
7. Erro original: onde toda a loucura começou. :)))


Luz e paz!

Patricia Nascimento Delorme, em busca da dissolviçao da minha imagem principal e bem feliz de ter encontrado o Pathwork, cujas interpretaçoes das leis divinas me dão TODAS  as respostas que minha alma necessita para me sintonizar com o bem, o bom e o belo. 

sábado, fevereiro 23, 2013

Tocando em frente

Quando eu tinha uns 8 anos ficava tentando descobrir a saida para o enigma da banda Secos e Molhados, "se correr, o bicho pega. se ficar, o bicho come."

Uma das saidas que encontrei foi continuar, mas sem correr. Andando. Na minha cabeça de criança, andar criava uma espécie de aura que me protegia do bicho porque ele so atacaria quem estivesse parado ou correndo.

Anos depois, ouvi a poesia do Renato Teixeira com a musica do Almir Sater na belissima voz da Maria Bethânia: "ando devagar porque ja tive pressa e levo este sorriso porque ja chorei demais. Estrada eu vou. Estrada EU SOU. é preciso paz pra poder sorrir. é preciso chuva para florir."

Vou tocando em frente aguardando a paz pra sorrir e a chuva para florir.




* Patrícia Nascimento Delorme, 41, tocando em frente.

sexta-feira, janeiro 18, 2013

Comunicaçao de massa e o corpo de dor

No livro "Despertar de uma nova consciência", Eckhart Tolle aborda o problema dos profissionais que trabalham nos meios de comunicaçao de massa, em geral e salvo exceçoes, que sao pautados pelo corpo de dor (emoçoes negativas nao digeridas e nao dissolvidas).

Duvida? Entao, observe as pautas dos jornais e tv's: tragédias e acidentes, violências de todo tipo, consumismo, etc etc etc - e futebol (para alienar um pouquinho)!
As emoçoes negativas se alimentam de emoçoes negativas. Toda essa violência nos meios de comunicaçao geram, entao, um circulo vicioso de criaçao e manutençao de energia negativa.

Hoje, confirmei esta tese do Eckhart  Tolle.

O jornal francês "Mon Quotidien", para crianças, aborda a mesma pauta (com enfoque negativo) que o jornal para adultos. Parece mais leve porque tem mais desenhos e fotos. Mas na essência é o mesmo blablabla cheio de negatividade do qual estou exausta.

A primeira vez que cobri uma campanha politica como jornalista, em 1997, compreendi a minha pequenez diante de um sistema tao imenso e poderoso de lavagem cerebral e desconstruçao da democracia. Pedi demissao, coloquei a mochila nas costas e fui em busca de mim mesma, seguindo o conselho de Gandhi: "Seja a mudança que você quer ver no mundo."

Eu compreendo que tudo isso faz parte de um processo maior de evoluçao da humanidade. Por enquanto, onde tem ser humano, tem distorçoes... Mas é que, as vezes, meu coraçao aponta horizontes que ainda vai levar um tempo pra gente chegar la. Nao sei se por imediatismo ou covardia, sofro muito por ainda ter que viver nesse sistema que é o unico possivel neste momento coletivo na Terra. Aceitar o aqui e o agora pra continuar mudando sem sofrimento, e sem cair na paralisia e alienaçao é o meu grande desafio de vida.

Enfim, segue fotos com comentarios para reflexao.

Na capa do jornal, a noticia principal: duas irmas idosas se reencontraram através do Facebook, depois de ficarem decadas sem se verem por causa da guerra. Apesar da pauta parecer positiva (o reencontro das duas irmas), o tema central da publicaçao é uma especie de revisao da guerra da Iuguslavia, entre 1992 e 1995.





Chamada na capa, o obvio do obvio, tragédia: "Tres anos atras aconteceu um terremoto no Haiti... 250 mil pessoas morreram."


Ainda na capa, acidente: "Criança de 11 anos, surpreendida pela maré enquanto andava de bicicleta, foi socorrida pelos policiais."


Ainda na capa, consumismo: "66% dos franceses tem intençao de fazer compras durante as liquidaçoes de inverno."


Miolo: guerra e a importancia do Facebook no mundo. Na foto, as duas irmas que nao se viam ha decadas e se reencontraram pelo Facebook. Apesar do tom positivo do reencontro, a noticia aborda mesmo é a guerra da Iuguslavia.


E, claro... futebol!



E, obvio, nao poderia faltar o tema da laicidade nas escolas! Francês a-d-o-r-a falar disso!
O problema é que anos de guerras religiosas, cruzadas, inquisiçao, revoluçao francesa, etc e taus fizeram deste pais um povo muito mal resolvido com a espiritualidade. Entao, em vez de ser laico e neutro no seu significado mais profundo, como o educador francês Allan Kardec que se aproximou de uma realidade desconhecida com respeito e espirito curioso, em geral, você é visto com desconfiança e sarcasmo ao proferir suas crenças. Taooooo cansativo!


A charge do dia: puro corpo de dor. O cara totalmente histérico brigando com um pingo d'agua.
" - Faça menos barulho. Isso esta me irritando." diz o neurotico kkkkkkkkkkkkk
o pingo d'agua se torna mais forte.
e o neurotico fica mais irritado ainda:  "- E ainda por cima, a goteira esta tirando sarro da minha cara."

afé maria! os profissionais deste jornal devem estar com depressao de inverno!



O jornal oferece atelier de jornalismo duas vezes por semana que custa 25 euros por criança. No programa, explicaçao das regras basicas de jornalismo; redaçao de artigo, fazer uma maquete do jornal, e um diploma de "Pequeno Jornalista". Assim, ja vai formando os futuros profissionais adestrados em corpo de dor...

Pra uma nova era, é preciso uma nova forma de se fazer comunicaçao!

Palestra de Eckhart Tolle sobre o assunto com legendas:



* Patrícia Nascimento Delorme, comunicadora, pensadora, dançadora e buscadora de novas formas de Ser.

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