Este blog é fruto da minha necessidade de compartilhar com você o caminho exterior-horizontal paralelo ao interior-vertical que tenho percorrido no meu destino de peregrina. "Vâmo chega, a casa é sua, pode entrar, meus braços vao te abraçar, ha tanto pra plantar por aqui." (Renato Teixeira)
Toró de Parpite nr. 57. Matoury-Guiana Francesa, 24 de maio de 2009.
Segundo o Guia, no livro Criando Uniao, psicografado pela medium judia austriaca, Eva Pierrakos, existem tres forças especificas no universo:
a força do amor;
a força erotica;
a força sexual.
Segundo o Guia, essas forças se interagem assim:
"A força erotica ou eros, sob muitos aspectos assemelha-se ao amor. Traz à tona impulsos que , de outra forma, o ser humano nao sentiria: impulsos de altruismo e afeto que a pessoa, anteriormente, talvez fosse incapaz de ter. Por isso, tantas vezes é confundido com amor.
Eros é a experiencia mais proxima do amor que o espirito nao-desenvolvido pode ter.
Tomada por essa força até a alma mais subdesenvolvida pode se superar. Enquanto dura esse sentimento, o egoista tem impulsos altruistas; os acomodados saem da inercia; o escravo da rotina livra-se dos habitos fixos, a pessoa centrada em si é capaz de fazer sacrificios durante a experiencia de Eros.
A força erotica faz com que a pessoa fique num plano acima da separaçao, mesmo que por um curto periodo, pois essa força tem um momentum e impacto. Ela esta fadada a dissolver-se caso a pessoa nao utilize a experiencia para aprender a amar, cultivando as qualidades despertadas pela força erotica.
So quando se aprende a amar é que a força erotica continua viva. Em si mesma, sem amor, a força erotica se esgota e esse é o problema dos casamentos. Como a maioria das pessoas é incapaz do amor puro, tambem é incapaz de manter a força erotica acesa. Eros proporciona à alma o antegozo da uniao, que a psique passa a desejar. Quanto mais forte é a experiencia de Eros, menos satisfaçao encontra a pessoa na pseudo-segurança da separaçao.
Assim, o amor é o estado de uniao permanente. Eros, é um estado de uniao passageiro.
O amor nao vem e vai, ao acaso. Eros, sim.
O amor necessita de alicerce por meio de desenvolvimento pessoal de cada um. Eros, atinge com força subita, muitas vezes pegando a pessoa desprevinida e até mesmo nao predisposta a passar pela experiencia.
A força sexual é a força criadora em qualquer plano da existencia.
Nas esferas superiores, essa mesma força cria a vida espiritual, as ideias espirituais, os conceitos e os principios espirituais. Nos planos inferiores, a força sexual pura e nao-espiritualizada cria a vida à medida que ela se manifesta nessa esfera em especial; cria a casca exterior, ou o veiculo da entidade destinada a viver naquela esfera.
O sexo puro existe em todas as criaturas: minerais, vegetais e animais. Mas Eros so se manifesta no ser humano. E o amor puro somente nos reinos superiores totalmente harmonizado com as forças do sexo e de eros tornando-se cada vez menos egoistas.
Assim, na parceria amorosa ideal entre duas pessoas é preciso que as tres forças estejam representadas.
Porem, quanto mais imatura for a criatura, espiritualmente falando, mais o sexo esta separado do amor. Por ignorancia, a humanidade acredita que o sexo é pecaminoso. Portanto, ele foi mantido oculto e essa parte da personalidade nao pode crescer. E nada que permaceça oculto pode crescer. portanto, mesmo em muitos adultos o sexo permanece infantil e apartado do amor. E isso levou a humanidade a acreditar que a pessoa espiritualizada deve abster-se dele. é preciso perceber que a força sexual é originaria de Deus como qualquer outra força universal para romper esse circulo vicioso e permitir que essa força se misture às forças do amor e de eros.
Somente em rarissimos casos a força sexual é sublimada de forma construtiva e faz com que essa criatividade se manifeste em outros planos. a verdadeira sublimaçao jamais pode ocorrer quando é motivada pelo medo ou usada como fuga. Evitar a parceria nao é saudavel. é uma fuga, mas a renuncia medrosa é racionalizada como um sacrificio, uma sublimaçao.
Antes de poder verdadeiramente revelar-se a Deus, voce precisa aprender a revelar-se a outro ser humano que voce ame. Ao faze-lo, vc tambem se revela a Deus. Muitas pessoas querem começar revelando-se ao Deus pessoal. Isso nao passa de um subterfugio pois essa revelaçao a Deus é abstrata e remota.
Ao se revelar a outro ser humano, vc realiza muita coisa q nao pode ser realizada por meio da revelaçao a Deus, que de qquer forma ja conhece vc e nao precisa da sua revelaçao.
O amor e o preenchimento pessoais sao o destino da maioria dos homens e mulheres, pois ha muita coisa q so pode ser aprendida por meio do amor pessoal, e nao por algum outro meio.
Formar um relacionamento solido e duravel pelo casamento é a maior vitoria q um ser humano pode conquistar, pois é uma das coisas mais dificeis.
Essa experiência de vida leva a alma para mais perto de Deus do que as boas açoes desinteressadas."
Criando União, Guia e Eva Pierrakos
é...ainda tem chão...
* Patrícia Nascimento Delorme, 37, compreendendo que repressao é diferente de transcender...
Toró de Parpite nr. 56. Matoury-Guiana Francesa, 23 de maio de 2009.
A Internet nos aproxima e nos conecta com pessoas que jamais teriamos a chance de rever ou conhecer. Amo demais!
Hoje tive uma feliz surpresa. A Conceiçao, de Lisboa-Portugal, encontrou o meu blog e me escreveu iniciando uma amizade que no mundo real de carne e osso teria sido dificil, ja que eu teria que ter ido à Lisboa, ou ela, à Caiena.
Dei uma passada no blog que ela escreve e encontrei esse post que gostei muito:
_______________________________________________________
Tenho sorte
Ser mulher, solteira e caminhar a passos largos para os 30 não é coisa boa em parte nenhuma do mundo, menos ainda em Lisboa, onde o pavimento é tão pouco amigo dos saltos. Não falo por mim, que já estou servida e, à partida, desenrascada para a vida..... no blog a pipoca mais doce.
depois de ler isto realmente acho que sou uma mulher de sorte, deve ser por não usar saltos altos.
Conceiçao
________________________________________________________
hehehehe, amei o comentario...
Toda mesmo! Além de marido, eu incluo na minha lista, trabalho e pessoas que fazem parte da minha vida.
Quando eu ainda vivia sob a ditadura do meu eguinho inflado, fazia de tudo, até mesmo me martirizar para suportar pessoas e situaçoes insuportaveis. Tudo em nome da iluminaçao espiritual!!!!!!!! Tolinha...hahahahaha. Eu acreditava (mesmo!) que essa atitude iria me levar a iluminaçao espiritual ou, na pior das hipoteses, eu PARECERIA iluminada aos olhos alheios. O que ja era alguma coisa para o meu mundinho que so via o meu umbiguinho!
Tudo o que consegui foi ficar cheia de raiva, magoa e rancor. E, ao nao estabelecer limites claros CRISTALINOS, permiti que muito abuso emocional e, até mesmo fisico, acontecesse.
Entao, ha algum tempo assumi a postura de estabelecer os limites claramente e, na medida do possivel, com amor.
Mas algumas pessoas nao querem amor. Elas estao tao desequilibradas que so conseguem receber limites com dor.
E sao essas pessoas que gritam: "Sua falsa..." Sim, eu fui falsa. Falsa ao suportar o insuportavel em troca da imagem de "iluminada".
Interessante perceber como irritamos os que querem viver na inércia quando nos dispomos a mudar. Mesmo que nao tenhamos a intençao de irrita-las!!!
Enfim, escutar esse tipo de coisa é o preço que se paga por desafiar o mundinho das aparências e da hipocrisia...
* Patrícia Nascimento Delorme, 37, mãe do Luka, terapeuta de Reiki e jornalista, na lida com a pequenez alheia, além da minha... Seu e-mail: patiedelorme@gmail.com
Toró nr 54. Matoury-Guiana Francesa, 22 de maio de 2009. Nubladao...
Ô, meu rei
Ricardo Freire
"O paulistano normalmente leva uma vida tranqüila, sem sobressaltos. Estamos perfeitamente adaptados ao nosso habitat. Sabemos como proceder em todas as situações, desenvolvemos métodos e temos soluções à mão para praticamente todo tipo de imprevisto. Na boa: ser paulistano é conseguir ficar relax mesmo morando numa cidade desse tamanho.
Por isso, quando o paulistano quer realmente se estressar, o que ele faz? Quando o paulistano quer realmente se estressar, o paulistano tira férias.
O fato é que o paulistano não está preparado para o estilo de vida de outros povos – principalmente se esses outros povos falam português e vivem dentro do Brasil. Não é um problema apenas de ritmo ou de qualidade de serviço. Qualquer diferença cultural – do jeito de falar à preferência musical ao tempero da comida – é motivo para o paulistano se estressar.
O pessoal dos outros lugares acha graça, pensando que paulistano é um estressado de nascença. Não é. A verdade é que o paulistado ficou estressado foi naquele momento. De São Paulo ele saiu calmo, que eu vi.
Quer ver o paulistano ficar muito, muito, muito estressado? Basta usar o pronome de tratamento “meu rei” numa situação em que algo deu errado. Quando alguém começa a dar uma explicação ou pedir desculpas com um “Ô, meu rei…”, sai de baixo. Do outro lado da linha tem um paulistano à beira de um ataque de nervos.
Mas por que diabos o paulistano tira férias, se fora de casa tudo para ele é motivo de stress? Porque o paulistano é um idealista e um abnegado. O paulistano tem uma missão nessa vida, que é a de levar a eficiência a todos os cantos do país – aproveitando a mesma viagem para, se possível, varrer o coentro da face da Terra.
Isso que o paulistano fala – “eu vou descansar” – é pura desculpa de missionário. Paulistano não sabe descansar. Não está no seu DNA. O paulistano só se propõe a descansar porque dessa maneira ele vai poder ficar mais estessado – o que facilita a tarefa de mostrar a essa gente como é que as coisas devem ser feitas de um jeito profissional. É assim que tem que ser. E um paulistano, por definição, jamais fugirá das suas responsabilidades, nem que para isso tenha que abdicar por uns dias do seu dia-a-dia resolvido e relaxado.
Ei! Você aí! Quer parar de chiar o “s”? Não vê que eu tô me estressando?"
Toró nr. 53. Matoury-Guiana Francesa, 22 de maio de 2009. Nubladao...
Cozinhando a Vida
"Ela via o mundo através de sua cozinha. Cozinhava tudo, suas alegrias, suas incertezas, seus medos e seguia cozinhando.
Suas panelas eram as companheiras que lhe acompanhavam todos esses anos. Elas ouviam suas histórias, sabiam de seus segredos. Nelas podia confiar. O fogo de seu fogão a lenha nunca se apagava, assim era a brasa que lhe queimava por dentro. Que temperos povoavam seu coração?
Gostava de pimenta e alecrim, nunca esquecia do alho e da cebola. Não era a cebola a culpada pelas lágrimas que sempre lhe caiam. Era o todo o resto.
Era estar só com suas panelas, era saber que todo dia cozinhava seus sonhos em banho-maria e por mais que seguisse temperando, sua vida insossa era a mesma, dia a dia, alheia ao fogo que ardia no fogão a lenha."
* Patrícia Nascimento Delorme, 37, jornalista e mãe do Luka, emocionada com todas as mulheres que seguem cozinhando a vida. Seu e-mail: patiedelorme@gmail.com
Toró nr. 52. Matoury-Guiana Francesa, 22 de maio de 2009. Nubladao...
Fixem bem este nome: Suu Kyi. por Leonídio Paulo Ferreira18 Maio 2009
Mataram-lhe o pai quando tinha dois anos, um dos irmãos morreu afogado em criança, vive sob prisão domiciliária intermitente há 19 anos apesar de ter ganho as eleições, não foi ter com o marido moribundo a Inglaterra porque sabia que não poderia regressar à Birmânia e há anos que não vê os filhos.
Hoje arrisca-se a que um tribunal de Rangum a condene a cinco anos de prisão porque um americano meio louco atravessou a nado o lago junto à sua casa para vê-la, violando a proibição de visitas estrangeiras. Esta tem sido a vida de Aung San Suu Kyi, Nobel da Paz em 1991, o mais parecido com uma heroína que o mundo tem hoje para mostrar. Os birmaneses adoram-na e vêem nela a esperança de pôr fim à ditadura militar. Sabem que esta mulher de 63 anos trocou a pacata vida como professora em Oxford, ao lado de Michael Aris e dos filhos Alexander e Kim, por um destino que se confunde com a história trágica do país, rebaptizado de Myanmar pelos militares.
O julgamento previsto para hoje na prisão de Insein está condenado a ser uma farsa, apesar das pressões internacionais. Suspeita-se que o incidente provocado por John Yettaw, que preparava um livro sobre heroísmo, está a ser aproveitado pela Junta Militar para manter Suu Kyi sob controlo. A sua prisão domiciliária terminava no final do mês e a Nobel preparava-se para apoiar a Liga Nacional para a Democracia a enfrentar as legislativas que os generais vão organizar no próximo ano. Em 1990, numas eleições livres, o partido criado por Suu Kyi obteve uma vitória esmagadora, com 82%. Agora o resultado seria ainda maior. A filha do líder independentista Aung San consegue ser mais popular do que quando regressou em 1998, para visitar a mãe doente, e acabou por assistir aos protestos que forçaram os militares dois anos depois a organizar eleições.
Doente, a recuperar de uma extracção do útero, Suu Kyi exibe um ar frágil e o seu rosto perdeu muita da beleza que impressionou o mundo. A coragem, porém, mantém-se inalterada. E como discursou o seu filho mais velho em Oslo, em 1991, perante a Academia Nobel, "através da sua dedicação e sacrifício pessoal tornou-se um valioso símbolo através do qual a privação de todo o povo da Birmânia pode ser revelada. E ninguém deve subestimar essa privação. A privação daqueles, no campo e nas cidades, que vivem na pobreza; daqueles na prisão, espancados e torturados; a privação dos jovens, a esperança da Birmânia, a morrerem de malária nas selvas para onde fugiram; a dos monges budistas, desonrados". Mas a parte mais aplaudida do discurso foi quando Alexander, então com 18 anos, acrescentou que o combate da mãe "faz parte de uma luta mais vasta, global, pela emancipação do espírito humano da tirania política e da submissão psicológica". Continua a ser verdade. Hoje.
* Patrícia Nascimento Delorme, 37, jornalista e mãe do Luka, com inveja da imortalidade de Suu Kyi mas sem amor o suficiente para percorrer um caminho com muito menos sacrificio pessoal do que o dela... Seu e-mail: patiedelorme@gmail.com
Toró nr. 51. Matoury-Guiana Francesa, 20 maio de de 2009.
Caros amigos(as),
Depois de 13 anos presa, a Prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi foi novamente encarcerada, com acusações ilegítimas impostas pela junta militar brutal da Birmânia. Diga para o Secretário Geral da ONU garantir a libertação dela e de todos os presos políticos do país:
Aung San Suu Kyi, líder pró-democracia e vencedora do Prêmio Nobel da Paz, acabou de receber novas acusações dias antes do fim do cumprimento da sua pena de 13 anos de prisão. Ela e outros milhares de monges e estudantes foram presos por desafiarem pacificamente a ditadura brutal de seu país, a Birmânia (Mianmar).
Mesmo correndo o risco de sofrer uma retaliação dos militares, os ativistas da Birmânia estão organizando um movimento global pela libertação de Aung San Suu Kyi e de todos os prisioneiros políticos do país. Nós temos apenas 6 dias para ajudá-los a conseguir uma quantidade gigantesca de assinaturas, que serão apresentadas para o Secretário Geral da ONU – Ban Ki Moon semana que vem. A petição pede que ele dê prioridade máxima à libertação dos presos, impondo a libertação como condição para qualquer engajamento com a junta militar. Clique no link para assinar e encaminhe este email para seus amigos, só com um grande número de assinaturas poderemos garantir a libertação de Aung San Suu Kyi e de todos os presos políticos da Birmânia:
No dia 14 de maio, Aung San Suu Kyi foi enviada para o presídio acusada de permitir a entrada de um homem norte-americano em sua casa, violando assim sua prisão domiciliar. A acusação é absurda pois a casa é cercada por guardas militares que são justamente os responsáveis pela guarda do local. Está claro que as acusações recentes são um pretexto para mantê-la presa durante as eleições de 2010.
O regime militar da Birmânia é conhecido pela repressão violenta a qualquer ameaça ao controle militar total. Milhares de pessoas estão presas em condições desumanas, onde não há atendimento médico e onde a prática de tortura e outros abusos são freqüentes. Há uma repressão violenta a grupos étnicos e mais de 1 milhão de pessoas já fugiram do país.
Aung San Suu Kyi é a maior ameaça ao poder da junta militar. Ela é a maior líder do movimento pró-democracia e teve uma vitória esmagadora sobre a junta nas eleições de 1990, sendo portanto a candidata mais forte às eleições programadas para o ano que vem. Ela tem sido presa continuamente desde 1988 – e apesar de estar sob prisão domiciliar, ela não tem contato nenhum com o mundo exterior. No presídio Insein onde ela foi levada semana passada não existe atendimento médico o que significa um enorme risco para as suas graves condições de saúde.
Fontes dizem que o movimento global que está emergindo para pressionar a ONU já está intimidando a junta militar. Mais de 160 exilados da Birmânia e grupos de solidariedade em 24 países estão participando desta campanha. O Secretário Geral da ONU e líderes regionais chaves que estão em contato com o regime militar da Birmânia podem influenciar o destino destes presos políticos. Semana passada o Secretário Geral Ban Ki Moon disse: “Aung San Suu Kyi e todos aqueles que podem contribuir para o futuro do país devem ser libertos”. Vamos surpreender o Ban Ki Moon com um chamado global massivo, pedindo que ele aja de acordo com as suas palavras e faça algo para acabar com a brutalidade militar, assine agora a petição:
Assim como a libertação do Nelson Mandela, a liberdade de Aung San Suu Kyi depois de anos de uma detenção injusta, poderá representar um novo começo para a Birmânia, trazendo a esperança da democracia. Esta semana poderá se tornar um momento histórico – vamos mostrar nosso apoio à Suu Kyi e aos corajosos homens e mulheres que lutam pela democracia – demande sua libertação já!
Toró de Prpite nr 50. Matoury-Guiana Francesa, 19 de maio de 2009. Sol!
Depois de quatro anos fora do Brasil, cheguei totalmente por fora do que existia de novo na musica brasileira. Foi a amiga Beatriz Diniz (oi Bia!) que me apresentou Zeca Baleiro. Quero dizer, a musica dele! E me presenteou com dois cds do moço. Muito grata, Bia!
Fui totalmente fisgada pelas letras inteligentes, bem-humoradas, ironicas. Melodia deliciosa e a voz... Que voz! Algo entre hipnotica e afrodisiaca... Era realmente o melhor que ja tinha escutado em anos, além da Noa!
Liguei pra uma amiga e perguntei: "você ja ouviu Zeca Baleiro?" E ela me respondeu rindo: "Patricia, foi você quem saiu do Brasil... O Zeca ja esta no terceiro CD!" Entao, eu perguntei de novo: "Você ja OUVIU Zeca Baleiro?" Ela pensou um pouco e respondeu: "Nao gosto muito... Acho superficial."
Sacrilegio! Heresia! Entao, existia alguém que nao gostava da musica do Baleiro? hahahaha. Sim, naquela época eu ainda achava que meu gosto resumia o gosto de todas as pessoas que eu conhecia. Um pequeno problema de ego que melhorou dois dedinhos...
Inconformada, respondi: "Ha que se transcender a superficialidade pra compreender o Baleiro".
A partir dai, a musica do Zeca veio a ser minhas preces durante aquele periodo de minha vida. Chegava de manhã no trabalho e tocava a cançao "Mamãe Oxum" pra começar o dia. Os estagiarios nunca reclamaram e até cantavam junto! Dia desses, uma ex-estagiaria me escreveu que sente falta das manhãs com Mamãe Oxum... hehehe.
O fato é que um dia fiquei com vontade de conhecer um ritual da Umbanda e pedi à amiga que nao gostava do Zeca Baleiro pra ir comigo. Meus pré-conceitos estavam me deixando apavorada...
Rumamos pro terreiro e nao é que os mediuns iniciaram a sessao cantando... Mamae Oxum! heehehe. O medo se dissolveu. Ali, de pé no chao, compreendi o Zeca com a mente e nao somente com o coraçao.
Olhei pra minha amiga e ela, sem me olhar, disse num sussurro: "Ta bom, ta bom, ele nao é superficial!"
Hoje, viajando pela internet, achei umas palavrinhas do Zeca Baleiro sobre o estado do Maranhao. De novo, de superficial o moço nao tem é nada!
Saravá, Zeca Baleiro!
MARANHÃO, ENGENHOSA MENTIRA Não me espantará que num futuro próximo o Maranhão venha a ser chamado de "Uganda brasileira" Zeca Baleiro
O Maranhão é um Estado do Meio Norte brasileiro, um preciosismo para nomear a região geograficamente multifacetada que é ponto de interseção entre o Nordeste e a Amazônia. Com área de 330 mil km2, pleno de riquezas naturais, tem fartas agricultura e pecuária, uma culinária rica e diversa e uma cultura popular exuberante. Não obstante tudo isso, pesquisa recente coloca o Estado como o segundo pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do País, atrás apenas de Alagoas.
Sou maranhense. Nasci em São Luís, capital do Estado, no ano de 1966, mesmo ano em que o emergente político José Sarney assumiu o governo estadual, sucedendo o reinado soberano do senador Vitorino Freire, tenente pernambucano que se tornou cacique político do Maranhão, a dominar a cena estadual por quase 40 anos. De 1966 até os dias de hoje, são outros 40 anos de domínio político no feudo do Maranhão, este urdido pelo senador eleito pelo Amapá José Sarney e seus correligionários, sucedâneos e súditos, que gerou um império cujo sólido (e sórdido) alicerce é o clientelismo político, sustentado pela cultura de funcionalismo público e currais eleitorais do interior, onde o analfabetismo é alarmante.
O senador José Sarney, recém-empossado presidente do Senado em um jogo de caras barganhas políticas, parecia ter saído da cena política regional para dar lugar a ares mais democráticos, depois de amargar a derrota da filha Roseana na última eleição ao governo do Estado para o pedetista Jackson Lago. Mas eis que volta, por meio de manobras politicamente engenhosas e juridicamente questionáveis, para não dizer suspeitas, orquestrando a cassação do governador eleito, sob a acusação de crime eleitoral, conduzindo a filha outra vez ao trono de seu império. Suprema ironia, uma vez que paira sobre seus triunfos políticos a eterna desconfiança de manipulações eleitoreiras (a propósito, entre os muitos significados da palavra maranhão no dicionário há este: "mentira engenhosa").
Em recente entrevista, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disparou frase cruel: "Não vamos transformar o Brasil num grande Maranhão." A frase, de efeito, aludia a uma provável política de troca de favores praticada pelo Planalto atualmente - segundo acusação do ex-presidente -, baseada em jogo de interesses regionais tacanhos e tráfico de influências. Como alguém nascido no Maranhão, e que torce para que o Estado alcance um lugar digno na história do País (potencial para isso não lhe falta, afinal!), lamento o comentário de FHC, mas entendo a sua ironia, pois o Maranhão tornou-se, infelizmente, ao longo dos tempos, um emblema do que de pior existe na política brasileira. Não é de admirar que divida o ranking dos "piores" com Alagoas, outro Estado dominado por conhecidas dinastias familiares.
Em seus tempos de apogeu literário, São Luís, a capital do Maranhão, tornou-se conhecida como a "Atenas brasileira". Mais recentemente, pela reputação de cidade amante do reggae, ganhou a alcunha de "Jamaica brasileira". Não me espantará que num futuro próximo o Maranhão venha a ser chamado de "Uganda brasileira" ou "Haiti brasileiro". A semelhança com o quadro de absoluta miséria social a que dois célebres ditadores levaram estes países - além do apaixonado apego ao poder, claro - talvez justificasse os epítetos.
[Do cantor e compositor Zeca Baleiro, na coluna Última Palavra, na revista IstoÉ (nº. 2055, 1º. de abril de 2009).
* Patrícia Nascimento Delorme, 37, jornalista e mãe do Luka, transcendendo a superficialidade, sempre! Seu e-mail: patiedelorme@gmail.com
Toró nr 49. Matoury-Guiana Francesa, 07 de maio de 2009. Chuva...
Dando continuidade às reflexoes que iniciei no Toró anterior, encontrei essas palavras de Eliane Brum, jornalista vencedora do Prêmio Jabuti com o livro "A vida que ninguém vê". Ela consegue traduzir claramente o que sinto em relaçao ao jornalismo.
"...Só faço parte de um grupo de repórteres que continua brigando para fazer matéria pessoalmente, sem a mediação de telefones e e-mails, prestando atenção no que vê, sente, observa - e não apenas no que é dito. Eu sou basicamente intuitiva, então nunca planejo muito. Para escrever é a mesma coisa. Em geral, fico grávida da matéria, então acho que vai gestando dentro de mim. Acho que a matéria fica se escrevendo dentro de mim. Por isso que quando eu sento, em geral ela sai aparentemente sem pensar. Porque já estava se pensando dentro de mim. Quanto ao estilo, se tenho um deve ser a soma de tudo o que li - e leio – nesta vida. Eu gosto mesmo é de literatura. Não vivo sem livros de ficção. Em geral não suporto muito o mundo. Acho que ser repórter me ajuda a equilibrar essa dor do mundo. A escritora Ana Miranda diz que “nem sempre a vida dói como uma afta”. É uma frase ótima. Pra mim em geral a vida dói como uma afta. Descobri que fazer jornalismo é um jeito de elaborar isso, de ver como as outras pessoas lidam com a dor do mundo (em geral muito melhor do que eu). E transformam dor em criação, às vezes da própria memória. Embora como leitora eu ame ficção (e sonho com um dia escrever ficção), aprendi que a realidade é imbatível. A ficção não alcança a capacidade de invenção e reinvenção da realidade. Por isso sou muito grata por ser repórter. ... Acho que existem vários tipos de matérias. As que eu geralmente faço não vejo como não me envolver com as pessoas. É uma relação de confiança mútua, de entrega mútua. Sinto uma responsabilidade terrível quando alguém aceita contar a sua vida para mim. É maravilhoso e é um peso. Nada pode ser pior do que uma pessoa não se reconhecer numa matéria. Não só não reconhecer suas palavras como seu jeito, seu cheiro. Mesmo que sempre vai ser o meu olhar sobre um outro, o outro tem de se ver no meu olhar ou há alguma coisa errada. E sei o que uma reportagem equivocada pode causar na vida de uma pessoa. Então fico muito tensa, tenho insônia. E vivo aquelas experiências todas. Não tem uma regra, tem bom senso em cada caso. Nem sempre acerto. Eu vivo cada matéria como se fosse a única. Eu mergulho, submerjo e depois é preciso emergir, o que só acontece depois de publicar. Isso cria algumas dificuldades extras. Porque são raros os editores que entendem que você não entra e sai de matéria como se fosse uma linha de montagem. Não é disso que se trata. É preciso de um tempo que, em geral, a gente tem cada vez menos. Não estamos “produzindo”, nosso trabalho não se mede em quantidade. Se essa for a medida, há algo de muito errado com a imprensa. Quando volto de uma viagem dessas, seja uma viagem literal ou não, fico muda, não consigo falar, preciso de uns dias dentro de mim. Eu ando, como, falo coisas corriqueiras, mas de verdade não estou. Estou elaborando dentro de mim porque foram coisas que mexeram muito comigo, que me transtornaram. Ao mesmo tempo que é um privilégio entrar nessas realidades que de outro jeito não teríamos acesso, é um preço alto, um custo pessoal alto. Não me canso de dizer que ninguém entra na vida do outro impunemente. Se nada se passou, eu acho, é porque apenas passou pela realidade, pela vida, mas não entrou."
Diane Arbus, fotografa judia americana , retratada pelo marido em 1949.
Toró nr 48. Matoury-Guiana Francesa, 30 de abril de 2009.
Ha dezessete anos tenho o mesmo sonho de vez em quando. Estou lavando as lentes de contato que sao do tamanho de minhas maos. Dobro-as em muitas partes, amasso e tento enfia-las nos olhos. A agonia de nao enxergar o mundo, a mim mesma, aos outros e a propria lente me atordoa. Estou em meio à nevoa desfocada tipica que envolve os miopes. Quando termino de dobrar minhas lentes e tento coloca-las à força dentro dos olhos, elas se abrem como um guarda-chuva e saltam para fora dos meus olhos me deixando na névoa desfocada e sem rumo.
Nesses dezessete anos, apenas uma unica vez sonhei que as lentes eram do tamanho que cabiam nos meus olhos. Eu as colocava sem problemas e voltava a enxergar: quando trabalhei como fotografa no secretariado da Marcha Global Contra o Trabalho Infantil, na India.
O psiquiatra suiço Carl Jung escreveu que a sombra designa "o outro lado" do ser humano, aquele em que vige a escuridao, tudo em nos que desconhecemos. Normalmente; destacamos a sombra negativa. Mas é preciso ter claro que existem as sombras positivas: nossos potenciais e talentos ainda nao expressados ou descobertos. Em meio a essa escuridao da vida inconsciente existemuita riqueza e sabedoria ainda nao explorados.Os sonhos, segundo Jung, sao portas para ir ao encontro das nossas sombras, positivas e negativas.
Seis anos atras, contei este sonho a um médico homeopata que me deu umas gotinhas pra que eu percebesse o que meu inconsciente estava gritando atraves deste sonho. Apesar de ser tao obvio eu ainda tinha duvidas... Duas noites depois das gotinhas, eu sonhei com um homem me explicando o sonho. Ao fotografar, eu deveria me aproximar do sujeito-objeto fotografado. Adentrar seu universo. Retirar os muros e mascaras que construi pra me proteger da dor. A Fotografia teria o poder de me fazer ver o mundo como ele é e nao como eu gostaria que fosse.
Hoje assisiti o filme "A Pele", de Steven Shainberg. Uma ficçao baseada na vida da fotografa judia americana Diane Arbus. O impacto emocional foi o mesmo do sonho que tenho ha dezessete anos.
Diane Arbus era assistente do marido, fotografo de moda. Nasceu numa familia judia rica e proprietaria de uma industria de casacos de pele em Nova Iorque. Segundo os biografos, na infancia nao conheceu a miseria, mas a mae sofria de depressao e era presa a codigos rigidos de conveniências e aparências da aristocracia. O que pode ter levado Diane a se interessar pelo "outro lado": a historia dos marginais, das prostitutas, dos deficientes fisicos, travestis e todo tipo de pessoa considerada "anormal" pela sociedade americana dos anos 50.
Assim como o principe Sidharta, na India, Diane Arbus rompeu com todos os laços da segurança, saiu dos muros aristocraticos de Upper West Side, em Nova Iorque, e teve a coragem de enxergar aqueles que ninguem queria ver. Diane ganhou prêmios e correu o mundo por fotografar pessoas nas condições mais incômodas e estranhas e por tentar ressaltar a beleza do que pode ser considerado abominável para a maior parte das pessoas. Em 1972, seu catalogo tornou-se um dos mais influentes livros de fotografia. Desde então, foi reimpresso 12 vezes e vendeu mais de 100 mil cópias. A exposição do MoMa viajou por todo o país e foi vista por 7 milhões de pessoas. No mesmo ano, Arbus tornou-se a primeira fotógrafa americana a ser escolhida para a Bienal de Veneza.
Sidharta, segundo os narradores da historia, teria alcançado a iluminaçao ao romper com tudo o que o ancorava. Diane se suicidou tomando um calhamaço de barbitúricos e cortando os pulsos aos 48 anos, em 1971, dois anos depois de se separar do marido que nao suportou suas escolhas.
Entao, fico aqui pensado com meus botoes... Qual é o limite para romper com tudo e nao se perder na trilha? Quando é que transcendemos a dor e a transformamos em luz para si e para os outros? Como entar em contato com as proprias sombras negativas sem ser engolida por elas? A dor na alma ja existe quando rompemos com o que nos ancorava e piora com tudo o que se vê diante das escolhas na sua caminhada pessoal ou ela nasce com a falta de firmeza diante das miserias humanas?
Diane com uma das filhas em auto-retrato.
No livro "Escutando Sentimentos", de Ermance Dufaux e Wanderley Oliveira, pagina 208, tem um paragrafo revelador sobre pessoas como Diane e Cazuza, por exemplo. "A tarja de obsidiados tem sido utilizada para quantos decidem por caminhos diferentes. Sao desbravadores obstinados de novas formas de caminhar, corajosos desafiantes que honram em si mesmos a diversidade. Diversidade essa que ainda nao aprendemos a respeitar. Peregrinam por outras sendas de aprendizado nas quais, possivelmente, a maioria de nos nao teria siso para trilhar. Garantem-se com suas intençoes. Sobre alguns deles, inclusive, assentam-se os mais elevados interesses do Plano Maior."
Susan Sontag, escritora americana e retratada por Diane, acusou Arbus de niilismo, total e absoluto espírito destrutivo em relação ao mundo circundante e ao próprio eu e que, exatatamente por isso, ela se escondia na dor dos marginais fotografados por ela pra nao lidar com a sua propria depressao.
Diane Arbus rebateu: " Pra mim, o sujeito da fotografia é sempre mais importante que a fotografia. Fotografei muito as pessoas "anormais", o bizarro. "Foi o primeiro tema que eu fotografei e eu tinha muito interesse por eles. Existe algo de fascinante sobre os "anormais". A maioria das pessoas segue pela vida tentando esconder suas deficiências. Os "anormais" nasceram com suas deficiências expostas. Eles passaram na prova final da vida. Eles sao verdadeiramente nobres. "
Sera que os que nasceram com suas deficiências expostas passaram na prova final da vida e sao verdadeiramente nobres? Nao creio.
Para mim, a nobreza nao esta no sofrimento, mas no que fazemos para deixar de sofrer. O caminho que Sidharta percorreu o levou à iluminação.
Essa consciência e a coragem pra ir ao encontro de suas sombras e romper com os codigos rigidos de conveniências e aparências hipocritas nao impediu Diane de se matar.
A consciência de que preciso sair do casulo em que me enfiei nao me impede de resistir às mudanças com todas as minhas forças com um imenso medo de me separar das mascaras que utilizo para amortecer a dor e de me perder na trilha, assim como Diane. Ainda sigo com medo de ver o mundo e de me enxergar. Minha maquina fotografica segue ainda escondida no armario, assim como algumas das minhas sombras.
* Patrícia Nascimento Delorme, 37, na lida com "o outro lado" do meu proprio ser e ao encontro das minhas sombras positivas e negativas.
PS: Escrevi esse texto em 2009, quando a maquina fotografica seguia escondida no armario. Em 2011, assaltantes entraram em casa e levaram a minha Canon 40D, tao sonhada. No inicio, senti uma especie de libertaçao, como se eles tivessem levado, juntamente com a camera, parte do meu eu idealizado. Depois, veio a constataçao de que as nossas criaçoes negativas se manifestam sem piedade e certeira.