sexta-feira, maio 22, 2009

Ô, meu rei!

Toró nr 54. Matoury-Guiana Francesa, 22 de maio de 2009. Nubladao...

Ô, meu rei

Ricardo Freire

"O paulistano normalmente leva uma vida tranqüila, sem sobressaltos. Estamos perfeitamente adaptados ao nosso habitat. Sabemos como proceder em todas as situações, desenvolvemos métodos e temos soluções à mão para praticamente todo tipo de imprevisto. Na boa: ser paulistano é conseguir ficar relax mesmo morando numa cidade desse tamanho.

Por isso, quando o paulistano quer realmente se estressar, o que ele faz? Quando o paulistano quer realmente se estressar, o paulistano tira férias.

O fato é que o paulistano não está preparado para o estilo de vida de outros povos – principalmente se esses outros povos falam português e vivem dentro do Brasil. Não é um problema apenas de ritmo ou de qualidade de serviço. Qualquer diferença cultural – do jeito de falar à preferência musical ao tempero da comida – é motivo para o paulistano se estressar.

O pessoal dos outros lugares acha graça, pensando que paulistano é um estressado de nascença. Não é. A verdade é que o paulistado ficou estressado foi naquele momento. De São Paulo ele saiu calmo, que eu vi.

Quer ver o paulistano ficar muito, muito, muito estressado? Basta usar o pronome de tratamento “meu rei” numa situação em que algo deu errado. Quando alguém começa a dar uma explicação ou pedir desculpas com um “Ô, meu rei…”, sai de baixo. Do outro lado da linha tem um paulistano à beira de um ataque de nervos.

Mas por que diabos o paulistano tira férias, se fora de casa tudo para ele é motivo de stress? Porque o paulistano é um idealista e um abnegado. O paulistano tem uma missão nessa vida, que é a de levar a eficiência a todos os cantos do país – aproveitando a mesma viagem para, se possível, varrer o coentro da face da Terra.

Isso que o paulistano fala – “eu vou descansar” – é pura desculpa de missionário. Paulistano não sabe descansar. Não está no seu DNA. O paulistano só se propõe a descansar porque dessa maneira ele vai poder ficar mais estessado – o que facilita a tarefa de mostrar a essa gente como é que as coisas devem ser feitas de um jeito profissional. É assim que tem que ser. E um paulistano, por definição, jamais fugirá das suas responsabilidades, nem que para isso tenha que abdicar por uns dias do seu dia-a-dia resolvido e relaxado.

Ei! Você aí! Quer parar de chiar o “s”? Não vê que eu tô me estressando?"

Ricardo Freire.
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* Patrícia Nascimento Delorme, 37, jornalista e mãe do Luka. Seu e-mail: patiedelorme@gmail.com

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