Toró de Prpite nr 50. Matoury-Guiana Francesa, 19 de maio de 2009. Sol!
Depois de quatro anos fora do Brasil, cheguei totalmente por fora do que existia de novo na musica brasileira. Foi a amiga Beatriz Diniz (oi Bia!) que me apresentou Zeca Baleiro. Quero dizer, a musica dele! E me presenteou com dois cds do moço. Muito grata, Bia!
Fui totalmente fisgada pelas letras inteligentes, bem-humoradas, ironicas. Melodia deliciosa e a voz... Que voz! Algo entre hipnotica e afrodisiaca... Era realmente o melhor que ja tinha escutado em anos, além da Noa!
Liguei pra uma amiga e perguntei: "você ja ouviu Zeca Baleiro?" E ela me respondeu rindo: "Patricia, foi você quem saiu do Brasil... O Zeca ja esta no terceiro CD!"
Entao, eu perguntei de novo: "Você ja OUVIU Zeca Baleiro?"
Ela pensou um pouco e respondeu: "Nao gosto muito... Acho superficial."
Sacrilegio!
Heresia!
Entao, existia alguém que nao gostava da musica do Baleiro?
hahahaha. Sim, naquela época eu ainda achava que meu gosto resumia o gosto de todas as pessoas que eu conhecia. Um pequeno problema de ego que melhorou dois dedinhos...
Inconformada, respondi: "Ha que se transcender a superficialidade pra compreender o Baleiro".
A partir dai, a musica do Zeca veio a ser minhas preces durante aquele periodo de minha vida. Chegava de manhã no trabalho e tocava a cançao "Mamãe Oxum" pra começar o dia. Os estagiarios nunca reclamaram e até cantavam junto!
Dia desses, uma ex-estagiaria me escreveu que sente falta das manhãs com Mamãe Oxum... hehehe.
O fato é que um dia fiquei com vontade de conhecer um ritual da Umbanda e pedi à amiga que nao gostava do Zeca Baleiro pra ir comigo.
Meus pré-conceitos estavam me deixando apavorada...
Rumamos pro terreiro e nao é que os mediuns iniciaram a sessao cantando... Mamae Oxum!
heehehe.
O medo se dissolveu. Ali, de pé no chao, compreendi o Zeca com a mente e nao somente com o coraçao.
Olhei pra minha amiga e ela, sem me olhar, disse num sussurro: "Ta bom, ta bom, ele nao é superficial!"
Hoje, viajando pela internet, achei umas palavrinhas do Zeca Baleiro sobre o estado do Maranhao. De novo, de superficial o moço nao tem é nada!
Saravá, Zeca Baleiro!
MARANHÃO, ENGENHOSA MENTIRA
Não me espantará que num futuro próximo o Maranhão venha a ser chamado de "Uganda brasileira"
Zeca Baleiro
O Maranhão é um Estado do Meio Norte brasileiro, um preciosismo para nomear a região geograficamente multifacetada que é ponto de interseção entre o Nordeste e a Amazônia. Com área de 330 mil km2, pleno de riquezas naturais, tem fartas agricultura e pecuária, uma culinária rica e diversa e uma cultura popular exuberante. Não obstante tudo isso, pesquisa recente coloca o Estado como o segundo pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do País, atrás apenas de Alagoas.
Sou maranhense. Nasci em São Luís, capital do Estado, no ano de 1966, mesmo ano em que o emergente político José Sarney assumiu o governo estadual, sucedendo o reinado soberano do senador Vitorino Freire, tenente pernambucano que se tornou cacique político do Maranhão, a dominar a cena estadual por quase 40 anos. De 1966 até os dias de hoje, são outros 40 anos de domínio político no feudo do Maranhão, este urdido pelo senador eleito pelo Amapá José Sarney e seus correligionários, sucedâneos e súditos, que gerou um império cujo sólido (e sórdido) alicerce é o clientelismo político, sustentado pela cultura de funcionalismo público e currais eleitorais do interior, onde o analfabetismo é alarmante.
O senador José Sarney, recém-empossado presidente do Senado em um jogo de caras barganhas políticas, parecia ter saído da cena política regional para dar lugar a ares mais democráticos, depois de amargar a derrota da filha Roseana na última eleição ao governo do Estado para o pedetista Jackson Lago. Mas eis que volta, por meio de manobras politicamente engenhosas e juridicamente questionáveis, para não dizer suspeitas, orquestrando a cassação do governador eleito, sob a acusação de crime eleitoral, conduzindo a filha outra vez ao trono de seu império. Suprema ironia, uma vez que paira sobre seus triunfos políticos a eterna desconfiança de manipulações eleitoreiras (a propósito, entre os muitos significados da palavra maranhão no dicionário há este: "mentira engenhosa").
Em recente entrevista, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disparou frase cruel: "Não vamos transformar o Brasil num grande Maranhão." A frase, de efeito, aludia a uma provável política de troca de favores praticada pelo Planalto atualmente - segundo acusação do ex-presidente -, baseada em jogo de interesses regionais tacanhos e tráfico de influências. Como alguém nascido no Maranhão, e que torce para que o Estado alcance um lugar digno na história do País (potencial para isso não lhe falta, afinal!), lamento o comentário de FHC, mas entendo a sua ironia, pois o Maranhão tornou-se, infelizmente, ao longo dos tempos, um emblema do que de pior existe na política brasileira. Não é de admirar que divida o ranking dos "piores" com Alagoas, outro Estado dominado por conhecidas dinastias familiares.
Em seus tempos de apogeu literário, São Luís, a capital do Maranhão, tornou-se conhecida como a "Atenas brasileira". Mais recentemente, pela reputação de cidade amante do reggae, ganhou a alcunha de "Jamaica brasileira". Não me espantará que num futuro próximo o Maranhão venha a ser chamado de "Uganda brasileira" ou "Haiti brasileiro". A semelhança com o quadro de absoluta miséria social a que dois célebres ditadores levaram estes países - além do apaixonado apego ao poder, claro - talvez justificasse os epítetos.
[Do cantor e compositor Zeca Baleiro, na coluna Última Palavra, na revista IstoÉ (nº. 2055, 1º. de abril de 2009).
* Patrícia Nascimento Delorme, 37, jornalista e mãe do Luka, transcendendo a superficialidade, sempre! Seu e-mail: patiedelorme@gmail.com
justa troca. ouço a ave maria, cantada por noa, quase todo os dias, tá no tocador de músicas do meu celular (o mesmo há 5 anos).
ResponderExcluirsobre o texto do zeca baleiro, nossa, não carece de comentários, perfeito.