terça-feira, agosto 12, 2008

Toró de Parpite nr. 31. Dalai Lama e seus comparsas.



Com um editorial desses, não quero a assinatura nem de graça!


Toró nr 31. Matoury-Guiana Francesa, 12 de agosto de 2008. 5° dia das Olimpíadas de Pekim.

Olá amigas e amigos,

Vejam a "pérola" brasileira que eu encontrei no editorial do jornal "Brasil de Fato, uma visão popular do Brasil e do mundo"!

Na íntegra:

O Dalai Lama e os seus comparsas do Repórteres Sem Fronteiras, financiados pela NED, dedicam-se a boicotar as Olimpíadas de Pequim
26/03/2008
Editorial Brasil de Fato (ed. 265)


Editor-Chefe: Nilton Viana (nilton@brasildefato.com.br)
Editor da Agência Brasil de Fato: Jorge Pereira Filho (jorge@brasildefato.com.br)

Assim como a Colômbia do narco-presidente Álvaro Uribe é uma questão estratégica para a geopolítica dos predadores internacionais do senhor George W. Bush na América Latina, o Tibete cumpre semelhante papel na Ásia, do mesmo modo que o 14º dalai-lama é (nos perdoem os budistas sérios e dignos) apenas um senhor Uribe que consegue chegar ao Nirvana sem necessitar de coca.
Com cerca de 1,2 milhão de quilômetros quadrados e por volta de 2,2 milhões de habitantes (censo 1990), o Tibete – desde 1951 – é uma Província Autônoma da República Popular da China, situada no sudoeste do país. Tem fronteiras com Myamar (a antiga Birmânia), Butão, Sikkim, Nepal e Índia. Já antes da tomada do poder pelos comunistas chineses (1949), o Tibete – desde sempre uma região em disputa pela sua localização estratégica – era uma jurisdição de Pequim, organizando-se enquanto sociedade feudal, baseada na escravidão e subordinada a uma teocracia, regida pela aliança entre o clero budista e a aristocracia (que somavam 5% da população).
Com a criação da República Popular, a decisão do novo regime foi o de fazer reformas pacíficas da velha estrutura tibetana. Assim, em 1954, seu 14º dalai-lama foi convidado a participar da primeira Assembléia Nacional Popular da China, que elaborou a Constituição da recém fundada Repúbica, sendo eleito um dos vice-presidentes do Comitê Permanente desse organismo.
Tudo parecia correr bem, com o teocrata rasgando sedas para o novo regime, até que tiveram início as primeiras reformas democráticas dessa Região Autônoma: instituição do Estado laico, abolição da servidão camponesa (95% da população constituía-se de servos) e uma reforma agrária redistribuindo as terras. Nada tão socialista, reforminhas básicas – republicanas e democráticas – das quais já haviam dado conta a Revolução Burguesa na França, em 1789, e a Independência dos Estados Unidos àquela mesma época (1776), secundada pela Guerra de Secessão poucos anos mais tarde. Nada tão radical que não se assemelhasse às Reformas de Base propostas pelo Governo do presidente João Goulart em 13 de março de 1964, que acelerariam o processo golpista em curso, acabando por depor o Governo dias depois, em 31 de março. Enfim essas coisas que as classes privilegiadas não suportam – no Brasil, por exemplo, até uma singela política de assitência social de distribuição de bolsas é motivo de gritas, por uma elite que já se apropriou até mesmo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
Em 1959 (10 de março), os teocratas e aristocratas à paisana se levantam, incendeiam prédios, assassinam funcionários e outros partidários das reformas, partem para a baderna e a violência – métodos típicos dessas classes perigosas em todo o Mundo. Estavam rompidos todos os acordos e compromissos com Pequim. Para por fim à onda de violências desencadedas pelo pacífico dalai e seus asseclas, tropas chinesas ocuparam as ruas de Lhasa, a capital, e diversos pontos da Província Autônoma.
A partir daí, nenhum acordo mais seria possível. O dalai se exila na Índia, onde se estabelece cercado por uma côrte de 120 mil tibetanos, e firma seu conúbio promíscuo com a CIA e com as forças armadas de Nova Delhi.
É um tempo em que, enquanto o cardeal Wojtyla agia na Polônia, seu colega dalai conspirava na Índia, dando continuidade à sua carreira de senhor da guerra, da defesa dos privilégios e da exploração, embora o capital, logo depois da Queda do Muro e em pleno processo de desmonte do bloco socialista, lhe descole um Nobel da Paz em 1989. Seu colega Wojtyla não teve tanta sorte: apenas conseguiu ser indicado para a mesma láurea do Nobel. No entanto, foi coroado papa e logrou fazer seu sucessor o cardeal Ratzinger, que garante a continuidade do desmanche das conquistas alcançadas pelos católicos progressistas e de esquerda durante os pontificados de João 23 e Paulo 6º.
Vários nomes fantasia camuflaram, ao longo dos anos, a societas sceleris constituída entre o dalai e a agência estadunidense: Exército de Defesa da Religião, Sociedade Americana por uma Ásia Livre e, por fim, hoje, receber ajuda através da National Endowment for Democracy (NED), a mesma patrocinadora dos Repórteres Sem Fronteira, cujo presidente foi condecorado cavaleiro da Legião de Honra, pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy.
Em 2003, o Nobel da Paz e Senhor da Guerra, passou 18 dias nos EUA, onde encontrou com seu colega George W. Bush, incorporando-se, ao que tudo indica – como seu colega colombiano, senhor Uribe – à política de “guerras preventivas”. Na ocasião, declarou que que era “muito cedo para dizer se a guerra do Iraque foi um erro” acrescentando em seguida que é necessário “reprimir o terrorismo”.
Agora, financiados pela mesma fonte, o dalai e os seus comparsas do Repórteres Sem Fronteiras, financiados pela NED, dedicam-se a boicotar as Olimpíadas de Pequim.
Apenas isto.
http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/analise/o-dalai-lama-a-cia-a-geopolitica-e-um-pouco-mais-do-mesmo-de-sempre/?searchterm=dalai%20lama

Opiniao dos leitores:

Enviado por Eymard Vasconcelos em 27/03/2008 11:48
Um jornal, que coloca como Editorial um texto tão tendencioso e tão unilateral, fica desmoralizado. Parece os antigos jornais de esquerda, no tempo em que o Partido Comunista Soviético dominava o pensamento oficial de esquerda. Uma coisa é um artigo assumido por um jornalista. Outra coisa é um editorial, que é uma posição oficial do jornal. Fiquei decepcionado.

Enviado por João Paulo em 27/03/2008 11:04
Desculpem, mas essa paranóia de conspiração o tempo todo, Dalai Lama e CIA?? Cara, para começar, a organização religiosa no Tibet é absolutamente aberta no sentido da liberdade do indivíduo se identificar ou não com este modo de vida. No Tibet, seus moradores em esmagadora maioria são contra o engessamento político e cultural impelido pela China. A idéia de genocídio cultural prega justamente a ausência de liberdade no ato de suas escolhas enquanto prática cotidiana de cultura e religião. Ficar toda hora ouvindo no "Brasil de Fato" analfabetos à teria marxista que louvam Cuba, China e ex-URSS (verdadeiros capitalismos de Estado) e nada sabem "de fato" as proposições desta teoria que, por fim, almeja a ausência de um Estado forte por um substituto de equilíbrio social regido pelo povo.

Enviado por Norbert em 27/03/2008 10:42
vou parar ler o "Brasil de Fato" - este texto pseudo-intellectual e demagógico me lembra dos tempos mais oscuros que vivenciei como cidadão da antigua Alemanha Oriental

Enviado por Vinicius s. alves em 26/03/2008 17:46
Triste! totalmente infeliz essa reportagem. O jornalista devia se informar mais sobro o Tibet antes de ter escrito essas asneiras. Viva a resistencia do povo Tibetano!

alberto
uau - vivendo e aprendendo. Nao imaginava que a essa altura do campeonato, no Brasil, existiam pessoas com o ponto de vista como o autor desse texto. A proxima reportagem do autor sera algo como "Pol Pot, o heroi injusticado" ou "Stalin: vitima dos historiadores inescrupulosos da CIA?"
"Para por fim à onda de violências desencadedas pelo pacífico dalai e seus asseclas, tropas chinesas ocuparam as ruas de Lhasa..."
Eu nao estive la, pelo menos nessa encarnacao, mas isso me parece um revisionismo da pior categoria... uma coisa e' ser marxista, outra e' fechar os olhos e enfeitar as atrocidades que os regimes comunistas fizeram em nome do bem comum. Isso seria o mesmo que os catolicos justificarem a santa Inquisicao, afinal, ela buscava a fidelidade a palavra de Jesus...
eu li "etica para um novo milenio" e achei um livro muito apropriado/positivo, e acessivel a qualquer publico... o discurso do dalai lama e' inteligente, ele conduz o leitor a uma religiosidade sem falar de religiao.
Nao tem como comparar esse livro ao enlatado "The Secret", por exemplo. Um conduz a reflexao, o outro a ilusao. (com o perdao da palavra, caso algum seguidor do titulo frequente a comunidade).
Acredito que o Dalai Lama tem grau e capacidade para escrever livros cascudos de budismo, como o Trungpa, mas segue por um caminho universalista e acessivel por opcao.

Enviado por Licurgo em 27/03/2008 10:40
"(...)até que tiveram início as primeiras reformas democráticas dessa Região Autônoma". É evidente que o governo estadunidense vai capitalisar pra si, assim como fizeram no Afeganistão, durante a invasão soviética. Agora "reformas democráticas" na China, é subestimar os leitores desse jornal. Por favor!
E mais, se o Tibet era um estado teocrático e precisava mudar, essa decisão cabia exclusivamente ao povo tibetano e não ao governo chinês. Aí aparece outra contradição gritante: os "nossos" podem, os outros não. A China fez a mesma coisa que os Estados Unidos tem feito, com o Iraque, com o Vietnam.
Então, menos paixão ajuda na hora de defender o programa.

Enviado por Diogenes de Sousa em 27/03/2008 07:12
Primeiramente é bom lembrar que o próprio Dalai Lama não mais reivindica a indepedência do Estado tibetano e sim uma maior autonomia política. E mesmo se essa for uma bandeira ilegítima (que nem é o caso que está em discussão), nenhum protesto pacífico deve ser reprimido com violência brutal. Seja num Estado "Socialista" (aproveito e perguntaria se a China é lá exemplo disso) ou num Capitalista, o direito dos indivíduos se organizarem e protestarem sem terem sua vida colocada em risco devem estar plenamente assegurados. Abaixo à repressão, abaixo a ditadura, seja ela de esquerda, seja de direita, seja capitalista, seja socialista!

"... a China está no centro da economia globalizada — e, no entanto, trata-se de uma ditadura feroz, em certa medida irreproduzível em qualquer país ocidental, mas isso não quer dizer que não sirva de inspiração.
Sempre que a China exalta o amor de alguém pela democracia, é bom você guardar um dinheiro para pagar aquela bala que pode estourar os seus miolos. Quando o PC chinês fala em “não-intervenção em assuntos internos”, está dizendo o seguinte: “Nós matamos os nossos chineses; cada governo mata o seu povo à vontade, sem ingerência externa”.
Vai ver é isso que Marco Aurélio Top Top Garcia chama de fortalecimento do "estado nacional". Trata-se de um mundo em que cada um pode ser bárbaro à sua maneira."

Rafael
China????
Aquilo lá reúne o pior do comunismo com o pior do capitalismo selvagem (com sua permissão, Rei). Definitivamente não é um modelo econômico e político a ser admirado.
Eu costumo dizer que o dia em que estourar uma guerra entre os Estados Unidos e China e eu tiver que me alistar em um dos lados, vou para o U. S. Army. Sabem por quê? Porque acho os Estados Unidos uma merda. Mas pelo menos EU POSSO DIZER ISSO LÁ. O que não acontece na China.
http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/2007/09/ditadura-exemplar-sada-o-pt.html


* Patrícia Nascimento Delorme, 36, jornalista e mãe do Luka, ainda em estado de choque com o editorial do "Brasil de Fato". Seu e-mail: patiedelorme@gmail.com

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