quinta-feira, agosto 14, 2008

Toró de Parpite nr. 33. Minha amada Suíça e o Tibete.

Toró nr 33. Matoury-Guiana Francesa, 14 de agosto de 2008. 7° dia das Olimpíadas de Pekim.


Montanhas suiças onde vivem os tibetanos em exílio . Ao fundo, o monastério tibetano de Rikon. Fotos: Manuel Bauer.


Cavalo de vento (Lung Ta) ou bandeira de prece é o nome dado a uma bandeira com preces. Não apresentam imagens, apenas textos tibetanos. Acima, os cavalos de vento nos bosques suíços.

Mais de 3 MIL TIBETANOS NA SUÍÇA

Minha amadíssima (apesar do histórico de lavar dinheiro sujo de republiquetas corruptas e do narcotráfico)segunda pátria, a Suíça, estava entre os primeiros países a reconhecer a República Popular da China. Pra compensar o estrago, numa boa política do morde-assopra, foi também a primeira a acolher refugiados desde o início da diáspora tibetana em 1959/1960.
A comunidade em exílio na Suíça, com mais de 3 mil pessoas atualmente foi, durante muito tempo, a maior fora do continente asiático. Os tibetanos encontraram na Suíça condições para se integrarem e, ao mesmo tempo, preservarem suas tradições. Eles vivem essencialmente na Suíça alemã, em Winterthur e arredores.


Aniversário do Dalai Lama no monastério. Bandeira tibetana e suíça juntinhas.

O monastério de Rikon é um Instituto de Altos Estudos Tibetanos e tem uma biblioteca e cursos de filosofia e de religião com alta reputação.
Abaixo, a análise da jornalista francesa Claude Levenson, autora de vários livros sobre o Tibete, inclusive a biografia do Dalai Lama http://www.claudelevenson.net/ . Levenson apóia a causa tibetana há muitos anos, e, assim como eu, acredita que a palavra tem poder e a utiliza como arma pra lutar pelo Tibete e seu povo.


Claude Levenson com o Dalai Lama.

« Quando o Tibete desafia o regime chinês
A ocupação de Lhassa pelas forças chinesas faz ressurgir as lembranças da Praça Tien'an-men. Como num cenário ruim, os mestres da Cidade Proibida são confrontados ao que eles sem dúvida mais temiam, o desafio tibetano. A reação à expressão de uma frustração profunda, que eles mesmo alimentaram durante decênios de ocupação, atesta, aos olhos do mundo, a fragilidade da reinvindicação sobre um país vizinho ocupado pela força das armas faz meio século.
De fato, o significado dos movimentos de protesto, inicialmente pacíficos e que degeneraram em razão da brutalidade da repressão - reação de medo e de insegurança - é a ilegitimidade da presença chinesa no Tibete.
Nem a ocupação militar, nem o consumismo intensivo lançado no início do século pelo "programa de desenvolvimento do Oeste" bastaram para apagar o sentimento nacional dos tibetanos nem o gosto pela liberdade.
Essa afirmação identitária, notadamente pela presença visível de bandeiras tibetanas - proibidas e objeto de severas penas de prisão a seus portadores - demonstra que os tibetanos querem preservar sua alteridade sobre seu solo ancestral frente à ameaça real de sinização acelerada imposta por uma política deliberada.
Para as autoridades chinesas, a questão é importante. Ao afirmarem que a ocupação é destinada a levar "a civilização a um povo atrasado e bárbaro", elas revelam uma atitude colonialista que pareciam fora de moda.

Urânio, madeira, petróleo....
Sem falar que o afluxo descontrolado de colonos provoca uma exploração das riquezas naturais - elas são valiosas nos planaltos tibetanos, da água ao urânio passando pela madeira e pelo petróleo - em benefício de uma metrópole distante e sedenta de alimentar sua máquina econômica aquecida.
Ao ver agora a ocupação militar em Lhassa e em localidades habitualmente bem tranqüilas e fora da região dita autônoma, as lembranças de Tien'an-men ressurgem fatalmente, embassando assim a bela vitrina que o regime tenta limpar para sua grande glória.
De repente, os atletas se questionam e os governos democráticos estão visivelmente embaraçados: apelar gentilmente pela "moderação" um regime ditatorial não é entrar no jogo ao invés de defender dignamente seus próprios princípios?
Claro, ouve-se a réplica imediata: "e os interesses econômicos?". Justamente, os laços econômicos nada têm a ganhar do respeito dos direitos fundamentais daqueles que são vítimas do "milagre" chinês?

O Dalaï-Lama é contra o boicote
Se a idéia de um boicote é novamente abordada - houve precedentes como os JO de Moscou, devido a invasão do Afeganistão, e os JO de Atlanta - isso não é obrigatoriamente a solução de um problema negligenciado durante muito tempo.
O Dalaï-Lama é contra o boicote. Segundo ele, é importante verificar se os compromissos de respeitar os direitos humanos assumidos pelos dirigentes chineses serão respeitados.
Ao solicitar uma enquete independente sobre o que ocorre no Tibete, doravante fechado e proibido aos estrangeiros, especialmente aos jornalistas, o líder tibetano exilado demonstra à comunidade internacional sua vontade persistente de diálogo.

Berlim 1936
Não ouvi-lo traria lembranças ainda mais sinistras que os de Moscou ou Atlanta: os de Berlim em 1936. Ora, se a história tem alguma coisa a ensinar, é justamente que ao querer fazer onda que se provoca o naufrágio do navio.
O destino dos tibetanos e de seu país é menos exótico e mais terra-a-terra do que alguns têm tendência a crer: depois dos JO, o assunto não é somente da esfera de Pequim, mas interessa o resto do mundo no qual não existe mais um país totalmente independente. »
Fonte: Swissinfo, Claude B. Levenson
http://www.swissinfo.org/por/capa/Quando_o_Tibete_desafia_o_regime_chines.html?siteSect=105&sid=8876866&cKey=1211788065000&ty=st

Para saber mais sobre a Suíça e os tibetanos :
http://www.swissinfo.org/por/capa/Das_montanhas_do_Himalaia_ao_altiplano_helvetico.html?siteSect=105&sid=5972635&cKey=1124120168000&ty=st

Para ver as fotos do monastério tibetano na Suíça.
http://www.manuelbauer.ch/index.php/imagecatalogue/image/list/218/0/

Website do Instituto Tibetano em Rikon, Suíça:
http://www.tibet-institut.ch/


* Patrícia Nascimento Delorme, 36, jornalista e mãe do Luka, crê na reencarnação e acredita já ter sido tibetana e suíça em outras passagens pelo planeta Terra. Seu e-mail: patiedelorme@gmail.com

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