terça-feira, junho 17, 2008

Toró de Parpite nr. 08. A caminho do céu.




Toró N. 08 . Índia, 16 de Junho 2000. Verão. Calor. Lua Cheia. 21h49


Meus amigos e amigas,

Estou escrevendo o ultimo TORÓ DE PARPITE aqui da Índia. Amanhã embarco de volta para a Suíça, depois de 5 meses habitando este outro planeta.




Estou trepidando entre dois extremos: morrendo de felicidade de estar voltando para o lugar onde deixei o coração e com aqueeeeeeeeeela nostalgia de quem deixa um local que contribuiu de forma decisiva na vida de alguém.

A nostalgia é completamente explicável. Minha vida pode ser dividida em duas fases: antes e depois da Índia.




Aprendi muito com os indianos, principalmente, o que NAO fazer.

A grande contribuição que estou levando comigo, alem dos 30 Kg de papel, é uma certeza de que a alegria e misticismo sem disciplina gera um sistema cruel em que cada um salva-se como pode.

Existe o estereótipo de que a Índia é o local ideal para se fazer uma jornada espiritual-transcedental. Pode ter sido pra muitos. Mas a minha jornada espiritual foi feita na Suíça gelada e cinzenta.
Aqui na Índia, entrei em contato com o que ha de mais terra-matéria-realidade.


Exploração da mão-de-obra infantil tropeçando em todas as esquinas, poluição para os cinco sentidos, violência, ignorância, indiferença, solidão.
Certa vez, um amigo (oi Roberto!) disparou a frase que iria marcar um período da minha vida: "pra alcançar o céu, é preciso atravessar o meio do inferno. "

A Índia foi o meu inferno…

Mas nem tudo foi lágrimas e medo. Tive momentos de extrema felicidade.



Conheci um pais com um povo hospitaleiro e contente como o brasileiro. Ultrapassei limites impostos por mim mesma, trabalhei com uma das pessoas mais eficientes que já conheci (oi Alam!), fiz amigos que vão durar uma eternidade, vou ter entrevista com Kailash Satyarthi (presidente da Marcha) publicada na Caros Amigos (EEEEEEEEE!) e conheci o Dalai Lama! Eu e as 3 mil pessoas que estavam no Templo, em Dharamshala, onde ele vive. hahahaha

Visitei o monastério onde o "A Copa" foi filmado (alguém assistiu?). Filme belissimo sobre monges tibetanos procurando uma tv pra assisitir a famigerada final da copa de 98, entre Brasil e França. Em meio a um roteiro surpreendente, o diretor (um lama tibetano) expressa como é viver no exilio e conviver com a tradição em um mundo cada vez mais globalizado.
Lindo! Pegue na locadora na primeira oportunidade!



Conheci os programas do governo tibetano em exílio na Índia. Não sei se chorei de emoção por causa das 10 mil crianças órfãs (pais assassinados pelo governo comunista chinês) ou em verificar a eficiência do Dalai Lama em prover casa e escola de qualidade para todas elas.
E o mais importante: encontrei definitivamente o norte. A mala vai cheia de papel, a cabeça cheia de planos, os olhos cheios de perspectivas, o coração cheio de saudade (da boa) e a pele cheia de poeira. Nova Deli está entre as cidades mais poluídas do mundo. E eu que sou menina do matão…
Mais se pra alcançar o céu, é preciso atravessar o meio do inferno, então vamo simbora que o calor tá de matar. 47 C `a sombra! Hoje foi de lascar! Mas amanhã irei embora e, quem sabe, a caminho do céu.


Um beijo carinhoso,

Patricia (Patie) Nascimento

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