terça-feira, junho 17, 2008

Toró de Parpite nr. 15. Os remos foram abandonados.


depois da tempestade...

a calmaria.

Toró N.15. Genebra, 02 março 2001. Inverno, Frio, Neve, Nublado! 7°C.

RESSURGE - Eis que ressurge, entre dores e vendavais, o Toró de Parpite.
Alguém teria dito que é sina do jornalista escrever melhor quando sofre. Não gostei, mas os fatos provam que sim. Antes assim. Se pra crescer tenho que chorar, que venham as lágrimas. Não suportava a superficialidade nem quando era superficial. E como diz o Gil, « só me rendo pelo brilho de quem vai fundo e mergulha com tudo pra dentro de si. » O resto são passagens…

PERIODICIDADE -Como vocês devem ter observado, o Toró não tem qualquer compromisso com periodicidade, prometendo assim, total fidelidade ao tesão de escrever. Vai um tesão, vem outro…

CAST AWAY – Quem assistiu o filme "O Naufrago" com o Tom Hanks ?
Pois é, quem captou a bela metáfora da vida que o Robert Zemeckis mostrou ?
Já pararam pra perceber o quanto cada um de nós é uma ilha ? Ou o quanto nos fazemos ilhas proibindo as pessoas que amamos de adentrar ? Ou o quanto nos deixamos ficar em ilhas, por medo ou comodismo, imaginando que sejam um porto seguro ?
Já pararam pra perceber como precisamos de amigos, ainda que sejam imaginários, pra ajudar a gente a suportar as tempestades ?
Perceberam o quanto nos desgastamos e nos machucamos ao tentar vencer as « ondas », quando, na verdade, deveríamos conhecê-las e tirar proveito para que as mesmas « ondas » se tornassem momentos de crescimento ?

O filme inteiro é uma bela metáfora desta nossa pequena e frágil lição chamada VIDA. Mas foram 4 os momentos que mais me marcaram :

1. Quando ele estuda o mar e o movimento das ondas, o vento, as chuvas, para poder sair da ilha. Não parece a gente tentando conhecer o mar-vida ?

2. Quando ele encontra o momento certo e, finalmente, se atira no mar. Ignora medos, dúvidas, ansiedades e qualquer outro sentimento contrário a vontade de sobreviver e reencontrar a amada.
Não parece a gente se atirando no mar desconhecido de uma relação, apostando planos, projetos, sonhos, acreditando que o « pra sempre » existe ?
Não parece a gente entendendo que a relação (seja ela qual for) não é um porto seguro ? É uma ilha. Uma ilha tão pequena que não sabemos porque demoramos tanto pra descobrir que não era um porto seguro.

3. Quando a personagem, cansada de lutar, deposita os remos no mar e deita-se na jangada. Atitude derrotista e suicida ? Não vi assim não. Vi uma pessoa que fez tudo que podia para alcançar o objetivo mas, percebe e assume a sua fragilidade perante a grandeza do mar-vida. Nada mais pode ser feito. Seu gesto de depositar os remos no mar é uma completa entrega da sua vida nas mãos da Vida.
Não parece a gente quando percebe os limites e se volta para Deus, Buda, Oxalá, Maomé, Jesus, Tupã, Jeová? Não parece a gente quando entende que os caminhos da VIDA, às vezes, são diferentes dos nossos projetos ? Não parece a gente quando entende o verdadeiro sentindo da resignação e aceita o que a Vida tem para nos ofertar ?

Eu deposito os meus remos no mar-vida neste instante. Vou para onde a Vida me acolher. Para onde as ondas do Amor me levar. Porque será feita sempre a vontade do Pai/Eu Superior em minha vida, e nunca a vontade do Filho/Ego. Assim será. Os remos já foram abandonados.

4. E finalmente, quando ele encontra a amada que já está trilhando um outro caminho e exige dele a lição mais dolorida de uma encarnação : a renúncia.
Renunciar não é só abrir mão de um sonho ou desejo. Renunciar é enfrentar o buraco, o vazio, o escuro, o mar da dúvida a nossa frente. É nos rasgarmos para que a dúvida seja digerida e compreendida. É nos abrirmos em novas dúvidas para que a claridade volte a reinar.

Mas nem tudo são dores. Renunciar é acatar o caminho que DEVE ser trilhado. É retornar para o ponto de onde nos desviamos por descuido, imprudência ou por acreditar que o desvio ERA o caminho.

E como saberemos que estamos no caminho que deve ser trilhado ? Saberemos. É só prestar atenção ao coração, que « precisa de paz pra sorrir. » E a paz vem do dever cumprido.

Por fim, renunciar a um caminho é fazer novas escolhas entre os muitos caminhos que surgirão nas encruzilhadas da Vida. E aí um círculo estará completo para se iniciar um outro. Assim é a vida. De círculo em círculo, de caminho em caminho até a perfeição.

Estes foram os momentos do filme que me fizeram pensar na encruzilhada em que me encontro. Renunciado o antigo caminho, qual deles devo seguir agora ?
Ainda não sei, mas confio de tal forma na Vida que não me permitirei sentir medo ou ilusões. E como disse a personagem do filme: « Agora é continuar respirando ! »

O CUIDADO – Leonardo Boff ataca novamente. « Saber Cuidar » é uma pérola para os que estão à busca do que vem a ser o cuidado.
Do latim Cura, cuidado era a palavra usada num contexto de relações de amor e amizade. Expressava a atitude de cuidado, de desvelo, de preocupação e de mostrar interesse pela pessoa amada ou por objeto de estimação. O cuidado somente surge quando a existência de alguém tem importância para mim. Passo então a dedicar-me a ele, disponho-me a PARTICIPAR DE SEU DESTINO, DE SUAS BUSCAS, DE SEU SOFRIMENTO E DE SEU SUCESSO, enfim, de sua vida.

Se assim não fora, a pessoa não se sentiria envolvida com a outra e mostraria negligência e incúria por sua vida e seu destino. No limite, revelaria indiferença que é a morte do amor e do cuidado.

O fato de carregarmos sempre uma sombra de descuido, não invalida a permanente busca do cuidado essencial. O cuidado não é uma meta a se atingir somente no final da caminhada. É um princípio que acompanha o ser humano em cada passo, em cada momento. Tal atitude gera discreta alegria e confere leveza à gravidade da vida.

ASSINALE X NA SUA OpçÃO DE VIDA :

1. A Negação do Cuidado :Assim como a pior doença é negar sua existência, de forma semelhante, a pior aberração do cuidado é sua negação. O ser humano fecha-se sobre o seu próprio horizonte, tornando-se cruel consigo e com os outros. Recusa relações e afoga sua capacidade de enternecimento e de amar. A partir daí, tudo é possível, até mesmo o impossível.

2. O Cuidado em Excesso : « O excesso de verdade é pior que o erro », dizia Pascal. O excesso de cuidado causa o perfeccionismo imobilizador. Há os que colocam em tudo tanto cuidado que nunca chegam a concluir o que iniciaram. Perdem oportunidades únicas, negócios vantajosos e chances de crescimento. Sentem-se insatisfeitos, acrescentando coisas sobre coisas. No limite, ficam imobilizados.

3. O Cuidado em sua Carência, o Descuido : Normalmente não conseguem ser inteiros no que fazem. Seja porque perderam o seu centro assumindo coisas demais, seja porque não colocaram todo o empenho no que fazem.
Tarefa humana é construir esse equilíbrio com autocontrole e moderação, mas sobretudo com ajuda do Espírito de Vida que nunca falta, porque ele é « a quietude no trabalho, a frescura no calor e o consolo nas lágrimas » : o equilíbrio dinâmico.

Musica da vez - Uma canção do Gil, a Noa de calças. Na verdade, uma versão de Jean e Paulo Garfunkel/Prata.

Gato Gaiato
Pelo que me diz respeito
Eu sou feita de duvidas
O que é torto o qu é direito diante da vida
O que é tido como certo, duvido
Sou fraca, safada, sofrida
E não minto pra mim
Vou montada no meu medo e mesmo que eu caia
Sou cobaia de mim mesma no amor e na raiva
Vira e mexe me complico
Reciclo, to farta, to forte, to viva
E so morro no fim
Lá do alto do telhado pula quem quiser
Só o gato que é gaiato cai de pé
E pra quem anda nos trilhos cuidado com o trem
Eu por mim já descarrilho e não atendo a ninguem
SÓ ME RENDO PELO BRILHO DE QUEM VAI FUNDO
E MERGULHA COM TUDO PRA DENTRO DE SI
E se a gente coincidisse num sonho qualquer
Eu contigo, tu comigo
Os dois, homem e mulher
Sendo a soma e tendo a chance de ser um par de pessoas, na boa
Vivendo felizes

Thats all folks ! Espero que não tenha sido muito densa. Afinal de contas, a mensagem final é « ame e deixe-se amar. »

Beijos mir
Patie
* Patricia Nascimento, 29, jornalista, confiante na vida e no ser humano, apesar de tudo. Seu e-mail: patienascimento@hotmail.com

Um comentário:

  1. Sobre o Taró de Parpite, li. reli, chorei, ... adorei.
    Acompanhei suas andanças, seus sentimentos, sua vida. Foi lindo e emociomante. É como se lhe conhecesse desde aqueles tempos.
    Você tem sentimentos puros porque vem da alma.
    Ainda quer saber sobre a felicidade?
    A minha felicidade é estar ao seu lado.

    Jorge

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