Toró nr. 23. Caiena-Guiana Francesa, 21 de junho de 2008. Estação da chuva. Como chove nessa terra! 27 °C
Confissões íntimas de um infiel resignado
Não é fácil ter uma epifania rodeado por tentações como chocolates franceses e mulheres indianas
Não é fácil ter uma epifania rodeado por tentações como chocolates franceses e mulheres indianas
Aqui encontro um guru (mestre), Swami Vijayananda, um monge que foi encarregado por Anandamayi Ma de guiar os fiéis estrangeiros. Ele é um velhinho lindo e fascinante, muito amigo, engraçado, inteligente e carinhoso.
Todos os dias, às quatro e meia da tarde, grupos de peregrinos, quase sempre franceses com ar de bonzinhos alternativos, fazem um círculo em torno de Swami Vijayananda para ouvir suas palavras. Mas eu confesso: para mim o maior atrativo desses encontros são os doces deliciosos que a francesada põe na roda. São marrons-glacês, pralines e bombons caríssimos, produzidos por chocolatiers tradicionais de Lyon ou Lille.
Enquanto Vijayananda explica a importância da meditação diária, não paro de rezar para que ele decida abrir novamente a caixa de chocolate e mandar ver uma outra rodada de trufas. Ontem, para combater meu profundo agnosticismo, Vijayananda recomendou que eu fosse ao templo de manhã bem cedo ouvir as preces. Segundo ele, talvez um lugar impregnado pela fé de milhões por tantos anos despertasse em mim uma nova possibilidade espiritual. Tive boa vontade. Fui ao templo, cruzei as pernas, fechei os olhos e comecei a pedir a Deus que viesse a mim. Mas fui distraído por uma irritante coceira no pé. Quando comecei a me concentrar novamente, uma indiana gostosíssima, dessas que param o trânsito e interrompem mantra, entrou no templo e se ajoelhou do meu lado.Daí por diante foi tudo por água abaixo. Em vez de meditar, comecei a sonhar com o curry do almoço e a pensar na dança do Créu. Desisti da epifania e fui checar meus e-mails concluindo pela milésima vez que, apesar dos meus esforços, meu sentimento religioso não vai além de uma pura e simples curiosidade antropológica.
ATEU GRAÇAS A DEUS
Como diria Millôr Fernandes, “graças a Deus, sou ateu”. Adoraria acreditar em santos e milagres, rezar, meditar, levitar, fazer comunhão, ler a Torah, comer hóstia, acender velas e entrar em transe. Talvez me sentisse muito mais livre de minhas prisões e menos aterrorizado com o mundo. Sem conseguir crer, por que não abraçar o racionalismo ateísta tão em voga, encabeçado pelo cientista inglês Richard Dawkins? Mas não é ele uma outra forma de fé, um contrário árido, apoético, tão chato e cego quanto todos os fundamentalismos religiosos?Quero ir a todas as Fátimas, Jerusaléns, Mecas, Vaticanos e Dharamsalas. Quero manter o coração e a cabeça abertos para todos os mistérios. Quero poder achar graça de tudo. Quero dormir um sono delicado e quero acordar continuando a querer. Talvez me baste saber que algumas perguntas não têm resposta.
*Henrique Goldman, 46, cineasta paulistano radicado em Londres, pretende seguir sua busca por iluminação, apesar das eventuais distrações. Seu e-mail é: hgoldman@trip.com.br
Desculpem reproduzir mais um texto do Henrique Goldman mas é que não resisti. Ele parece me conhecer mais do que eu conheço a mim mesma! Impressionante!
E reproduzi esse texto também pra abrir uma porção de Torós onde vou trazer à tona a minha porção "boazinha alternativa". Aguardem!
*Patricia Nascimento Delorme, 36, jornalista e mãe do Luka, também pretende seguir sua busca por iluminação, apesar das eventuais distrações - e que distrações!! Seu e-mail é: patienascimento@hotmail.com
Você é uma pessoa super abençoada..continue assim..adorei seu blog...sem palavras..qdo crescer quero assim que nem Patricia do Nascimento...hehehehe, mas acredite vc faz mta falta aki...Beijos
ResponderExcluirVânia